Aguas de Oxalá
Aproximava-se o dia em que seria realizado no reino de Ogó, a época das
comemorações em homenagem a Xangô, Rei de Ogó, onde todos os Orixás foram
convidados, inclusive Oxalufã. Antes de rumar a Ogó, Oxalufã consultou seu
babalawo a fins de saber como seria a jornada, o babalawo lhe disse: leve três
mudas de roupas brancas, pois Exú irá dificultar seus caminhos. E Oxalufã
partiu sozinho. O adivinho aconselhou-o então a levar consigo três panos
brancos, limo-da-costa e sabão-da-costa, assim como a aceitar e fazer tudo que
lhe pedissem no caminho e não reclamar de nada, acontecesse o que acontecesse.
Seria uma forma de não perder a vida.
Caminhando pela mata encontrou Exú tentando levantar um tonel de Dendê as costa
e pediu-lhe ajuda, Oxalufã prontamente lhe ajudou mas Exú, propositalmente
derramou o dendê sobre Oxalufã e saiu. Oxalufã banhou-se no rio, trocou de
roupa e continuou sua jornada. Mas adiante encontrou-se novamente com Exú, que
desta vez tentava erguer um saco de carvão a costas e pediu a Oxalufã que lhe
auxiliasse, novamente Oxalufã lhe ajudou e Exú repetiu o feito derramando o
carvão sobre Oxalufã, banhando-se no rio e trocando de roupa, Oxalufã
prosseguiu sua jornada a Ogó, próximo já a Ogó, encontrou com Exú novamente
tentado erguer um tonel de melado e a estória se repetiu. Nos campos de Ogó,
Oxalufã encontrou com um cavalo fugitivo dos estábulos de Xangô, e resolveu
devolver ao dono, antes de chegar a cidade, foi abordado pelos guardas que
julgaram-no culpado pelo furto.
Maltrataram e prenderam Oxalufã. Ele, sempre calado, deixou-se levar
prisioneiro. Mas, por estar um inocente no cárcere, em terras do Senhor da
Justiça, Ogó viveu por longos sete anos a mais profunda seca. As mulheres
tornaram-se estéreis e muitas doenças assolaram o reino. Desesperado Xangô
resolveu consultar um babalawô para saber o que acontecia e o babalawô lhe
disse: a vida está aprisionada em seus calabouços, um velho sofria injustamente
como prisioneiro, pagando por um crime que não cometera. Com essa resposta,
Xangô foi até a prisão e lá encontrou Oxalufã todo sujo e mal tratado.
Imediatamente o levou ao palácio e lá chamou todos os Orixás onde cada um
carregava um pote com água da mina. Um a um os Orixás iam derrubando suas águas
em Oxalufã para lavá-lo. O rei de Ogó mandou seus súditos vestirem-se de
branco. E que todos permanecessem em silêncio. Pois era preciso,
respeitosamente, pedir perdão a Oxalufã. Xangô vestiu-se também de branco e nas
suas costas carregou o velho rei. E o levou para as festas em sua homenagem e todo
o povo saudava Oxalufã e todo o povo saudava Xangô.
Lenda da Criação
Oxalá, "O Grande Orixá" ou "O Rei do Pano Branco". Foi o
primeiro a ser criado por Olorum, o deus supremo. Tinha um caráter bastante
obstinado e independente.
Oxalá foi encarregado por Olorum de criar o mundo com o poder de sugerir (àbà)
e o de realizar (àse). Para cumprir sua missão, antes da partida, Olorum
entregou-lhe o "saco da criação". O poder que lhe fora confiado não o
dispensava, entretanto de submeter-se a certas regras e de respeitar diversas
obrigações como os outros orixás. Uma história de Ifá nos conta como. Em razão
de seu caráter altivo, ele se recusou fazer alguns sacrifícios e oferendas a
Exú, antes de iniciar sua viagem para criar o mundo.
Oxalá pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu òpá osorò ou
paxorô, cajado para fazer cerimônias. No momento de ultrapassar a porta do
Além, encontrou Exu, que, entre as suas múltiplas obrigações, tinha a de
fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu descontente com a recusa
do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas, vingou-se o fazendo sentir
uma sede intensa. Oxalá, para matar sua sede, não teve outro recurso senão o de
furar com seu paxorô, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante
dele escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou
bêbado, e não sabia mais onde estava e caiu adormecido. Veio então Odudua,
criado por Olorum depois de Oxalá e o maior rival deste. Vendo o Grande Orixá
adormecido, roubou-lhe o "saco da criação", dirigiu-se à presença de
Olorum para mostrar-lhe o seu achado e lhe contar em que estado se encontrava
Oxalá. Olorum exclamou: "Se ele está neste estado, vá você, Odudua! Vá
criar o mundo!" Odudua saiu assim do Além e encontrou diante de uma
extensão ilimitada de água.
Deixou cair a substância marrom contida no "saco da criação". Era
terra. Formou-se, então, um montículo que ultrapassou a superfície das águas.
Aí, ele colocou uma galinha cujos pés tinham cinco garras. Esta começou a arranhar
e a espalhar a terra sobre a superfície das águas.
Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez mais, o que
em iorubá se diz ilè nfè, expressão que deu origem ao nome da cidade de Ilê
Ifé. Odudua aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e tornou-se assim o
rei da terra.
Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu lado o "saco da
criação". Despeitado, voltou a Olorum. Este, como castigo pela sua
embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua família, os
orixás funfun, ou "orixás brancos", beber vinho de palma e mesmo usar
azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de modelar no
barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olorum, insuflaria a vida.
Por essa razão, Oxalá também é chamado de Alamorere, o "proprietário da
boa argila”. Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério
a proibição de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens
saiam de suas mãos contrafeitas, deformadas, capengas, corcundas. Alguns,
retirados do forno antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se
tristemente pálidas: eram os albinos. Todas as pessoas que entram nessas
tristes categorias são-lhe consagradas e tornam-se adoradoras de Oxalá.
Como Oxalá se Tornou o Pai da Criação
Iemanjá, a filha de olokum, foi escolhida por olorum para ser a mãe dos orixás.
como ela era muito bonita, todos a queriam para esposa; então, o pai foi
perguntar a orumilá com quem ela deveria casar. orumilá mandou que ele
entregasse um cajado de madeira a cada pretendente; depois, eles deveriam
passar a noite dormindo sobre uma pedra, segurando o cajado para que ninguém
pudesse pegá-lo. na manhã seguinte, o homem cujo cajado estivesse florido seria
o escolhido por orumilá para marido de iemanjá. Os candidatos assim fizeram; no
dia seguinte, o cajado de oxalá estava coberto de flores brancas, e assim ele
se tornou pai dos orixás.
Como Oxalá Aprendeu a Produzir a Cor Branca
Certa vez, quando os orixás estavam reunidos, oxalá deu um tapa em exu e o
jogou no chão todo machucado; mas no mesmo instante exu se levantou, já curado.
Então oxalá bateu em sua cabeça e exu ficou anão; mas se sacudiu e voltou ao
normal. Depois oxalá sacudiu a cabeça de exu e ela ficou enorme; mas exu
esfregou a cabeça com as mãos e ela ficou normal. A luta continuou, até que exu
tirou da própria cabeça uma cabacinha; dela saiu uma fumaça branca que tirou as
cores de oxalá. oxalá se esfregou, como exu fizera, mas não voltou ao normal;
então, tirou da cabeça o próprio axé e soprou-o sobre exu, que ficou dócil e
lhe entregou a cabaça, que oxalá usa para fazer os brancos.
LENDAS
DE YEMANJÁ
Iemanjá teve muitos problemas com os filhos.
Ossain, o mago, saiu de casa muito jovem e foi viver na mata virgem estudando
as plantas. Contra os conselhos da mãe, Oxóssi bebeu uma poção dada por Ossain
e, enfeitiçado, foi viver com ele no mato. Passado o efeito da poção, ele
voltou para casa mas Iemanjá, irritada, expulsou-o. Então ogum a censurou por
tratar mal o irmão. Desesperada por estar em conflito com os três filhos, Iemanjá
chorou tanto que se derreteu e formou um rio que correu para o mar.
Iemanjá foi casada com Okere. Como o marido a maltratava, ela resolveu fugir
para a casa do pai Olokum. Okere mandou um exército atrás dela mas, quando
estava sendo alcançada, Iemanjá se transformou num rio para correr mais
depressa. Mais adiante, Okere a alcançou e pediu que voltasse; como Iemanjá não
atendeu, ele se transformou numa montanha, barrando sua passagem. Então Iemanjá
pediu ajuda a Xangô; o orixá do fogo juntou muitas nuvens e, com um raio,
provocou uma grande chuva, que encheu o rio; com outro raio, partiu a montanha
em duas e Iemanjá pôde correr para o mar.
Exu, seu filho, se encantou por sua beleza e tomou-a a força, tentando
violentá-la. Uma grande luta se deu, e bravamente Iemanjá resistiu à violência
do filho que, na luta, dilacerou os seios da mãe. Enlouquecido e arrependido
pelo que fez, Exu “saiu no mundo” desaparecendo no horizonte. Caída ao chão, Iemanjá
entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho,
pediu socorro ao pai Olokum e ao criador Olorum. E, dos seus seios dilacerados,
a água, salgada como a lágrima, foi saindo dando origem aos mares. Exu, pela
atitude má, foi banido para sempre da mesa dos orixás, tendo como incumbência
eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros na corte.
Por isso Iemanjá é representada na imagem com grandes seios, simbolizando a
maternidade e a fecundidade.
LENDAS
DE NANÃ
Como Nanã Ajudou na Criação do Homem
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser
humano, o Orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele.
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a
criatura ficou dura. De pedra, mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o
homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então
que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do fundo da lagoa
onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o
modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. Com a ajuda dos Orixá
povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que
voltar à terra, voltar à natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo mas
quer de volta no final tudo o que é seu.
LENDAS
DE OXUM
Como Oxum Conseguiu Participar Das Reuniões Dos Orixás Masculinos
Logo que todos os Orixás chegaram à terra, organizavam reuniões das quais
mulheres não podiam participar. Oxum, revoltada por não poder participar das
reuniões e das deliberações, resolve mostrar seu poder e sua importância
tornando estéreis todas as mulheres, secando as fontes, tornando assim a terra
improdutiva. Olorum foi procurado pelos Orixás que lhe explicaram que tudo ia
mal na terra, apesar de tudo que faziam e deliberavam nas reuniões. Olorum
perguntou a eles se Oxum participava das reuniões, foi quando os Orixás lhe
disseram que não. Explicou-lhes então, que sem a presença de Oxum e do seu
poder sobre a fecundidade, nada iria dar certo. Os Orixás convidaram Oxum para
participar de seus trabalhos e reuniões, e depois de muita insistência, Oxum
resolve aceitar. Imediatamente as mulheres tornaram-se fecundas e todos os
empreendimentos e projetos obtiveram resultados positivos. Oxum é chamada
Iyalodê (Iyáláòde), título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante
entre as mulheres da cidade.
Como Oxum Criou O Candomblé
Foi de Oxum a delicada missão dada por Olorum de religar o orum (o céu) ao aiê
(a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi
o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Oxum
veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou
as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de
Ecodidé (um pássaro sagrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas,
seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem
os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês.
Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé.
Oxum É Destemida Diante Das Dificuldades Enfrentadas Pelos Seus
1. Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus
lenços e o mel, seduzindo Ogum até que ele volte a produzir os instrumentos
para a agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.
2. Oxum enfrenta o perigo quando Olorum, Deus supremo, ofendido pela rebeldia
dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se
abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Oxum voa até o deus maior
levando um ebó, para suplicar ajuda. No caminho ela não hesita em repartir os
ingredientes da oferenda com o velho Oxalufã e as crianças que encontra. Mesmo
tornando-se abutre pelo calor do sol, que lhe queima, enegrecendo as penas, ela
alcança a casa de Olorum. E consegue seu objetivo pela comoção de Olorum.
3. Oxalá tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Oxum vem para
ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence. Ela é adorada por Oxalá.
4. Com grande compaixão, Oxum intercede junto a Olorum para que ele ressuscite Obaluaiê,
em troca do doce mel da bela orixá.
5. E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida,
jogada ao rio por seu pai. Oxum cuida da recém-nascida, a querida Oiá.
A Riqueza De Oxum
Com suas joias, espelhos e roupas finas, Oxum satisfaz seu gosto pelo luxo.
Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida.
Vai à frente da casa de Oxalá e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos
berros, até receber dele a fortuna desejada para então se calar. E assim Oxum
torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá
feminino) jamais o fora".
Os Amores De Oxum
Oxum luta para conquistar o amor de Xangô e quando o consegue é capaz de gastar
toda sua riqueza para manter seu amado.
Ela livra seu querido Oxóssi do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que
se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu.
Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Xangô e Ogum,
ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Xangô é seu
marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro
se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Oxum quer ser amada e
todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas
finas, joias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá
do amor. Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está
sempre atenta para manter-se a mais amada.
Como Oxum Conseguiu O Segredo Do Jogo De Búzios
Oxum queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exú e este não
queria lhe revelar. Oxum foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Exú, este
desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que
ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os
dedos. Exú se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico
que ao cair nos olhos de Exú o cega e arde muito. Exú gritava de dor e dizia; -
Eu não enxergo nada, cadê meus búzios? Oxum fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles? - Dezesseis, respondeu Exú, esfregando os olhos. -
Ah! Achei um, é grande! - É Okanran, me dê ele. - Achei outro, é menorzinho! -
É Eta-Ogundá, passa pra cá...
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá o Orixá
da adivinhação, pela coragem e inteligência da Oxum, resolveu-lhe dar também o
poder do jogo e dividi-lo com Exú.
Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da
adivinhação, Oxum, foi procurar Exú. Exú, muito matreiro, falou à Oxum que lhe
ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Oxum sobre os
domínios de Exú durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do
mesmo, em troca ele a ensinaria.
E, assim foi feito, durante sete anos Oxum foi aprendendo a arte da adivinhação
que Exú lhe ensinará e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos
afazeres domésticos na casa de Exú. Findando os sete anos, Oxum e Exú, tinham
se apegado bastante pela convivência em comum, e Oxum resolveu ficar em
companhia desse Orixá. Em um belo dia, Xangô que passava pelas propriedades de
Exú, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de
um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Oxum.
Foi-se a tal ponto que Xangô, viu-se completamente apaixonado por aquela linda
mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo
castelo na cidade de Oyó. Oxum rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a
companhia de Exú. Xangô então irritado e contrariado, seqüestrou Oxum e levou-a
em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Exú, logo de
imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as
regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência.
Chegando nas terras de Xangô, Exú foi surpreendido por um canto triste e
melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre.
Lá estava Oxum, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do
Rei. Exú, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Orumilá, que de pronto agrado
lhe cedeu uma poção de transformação para Oxum desvencilhar-se dos domínios de
Xangô. Exú, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal
poção. Oxum tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda
pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Exú para sua
morada.
Como Ogum Virou Orixá
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos. Ele trazia sempre um rico
espólio em suas expedições, além de numerosos escravos. Todos estes bens
conquistados, ele entregava a Odúduá, seu pai, rei de Ifé.
Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê e matou o rei,
Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei.
Ele é saudado como Ogum Onirê! - "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa,
"akorô". Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô - "Ogum dono
da pequena coroa”. Após instalar seu filho no trono de Irê, Ogum voltou a
guerrear por muitos anos. Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não
reconheceu o lugar. Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma
cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio completo. Ogum tinha fome
e sede. Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam
vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo. Ogum, cuja paciência é
curta, encolerizou-se. Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça
das pessoas. A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum e
ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e feijão, regados com dendê, tudo
acompanhado de muito vinho de palma. Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus
atos de violência, e disse que já vivera bastante, que viera agora o tempo de
repousar. Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum
tornara-se um Orixá.
Lenda
de Ogum Xeroque
Uma vez ao voltar de uma caçada não encontrou vinho de palma (ele devia estar
com muita sede), e zangou-se de tal maneira que irado subiu a um monte ou
montanha e Xeroque (gritou Ferozmente ou cortou cruelmente do alto da montanha
ou monte), cobrindo-se de sangue e fogo e vestiu-se somente com o mariwo, esse
Ogum furioso chamado agora de Xeroque, foi para longe para outros reinos, para
as terras dos Ibos, para o Daomé, até para o lado dos Ashantis, sempre furioso,
Guerreando, lutando, invadindo e conquistando. Com um comportamento raivoso que
muitos chegaram a pensar tratar-se de Exu zangado por não ter recebido suas
oferendas ou que ele tivesse se transformado num Exu (talvez seja por isso que
chegue a ser tratado como sendo metade exu por muitos do candomblé). Antes que ele
chegasse a Ire, um Oluwo que vivia lá recomendou aos habitantes que oferecessem
a Xeroque, um Aja (cachorro), Exu (inhame), e muito vinho de palma, também
recomendou que, com o corpo prostrado ao chão, em sinal de respeito recitassem
o seus orikis, e tocadores tocassem em seu louvor. Sendo assim todos fizeram o
que lhes havia sido recomendado só que o Rei não seguiu os conselho, e quando Xeroque
chegou foi logo matando o Rei, e antes que ele matasse a população Eles fizeram
o recomendado e acalmaram Xeroque, que se acalmou e se proclamou Rei de Ire
sendo assim toda vez que Xeroque se zanga ele sai para o mundo para guerrear e
descontar sua ira chegando até a ser considerado um Exu e quando retorna a Ire
volta a sua característica de Ogum guerreiro e vitorioso Rei de Ire.
Ogum dá ao homem o segredo do ferro
Na Terra criada por Oxalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e
viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos
feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande
esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era
necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir
como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área de lavoura.
Ossãe, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu
facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossãe,
todos os outros Orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o
terreno para o plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito
nada até então. Quando todos os outros Orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu
facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados,
perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum
respondeu que era o ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram
Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e
até mesmo à guerra.
Por muito tempo os Orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas
ele mantinha o segredo só para si. Os Orixás decidiram então oferecer-lhe o
reinado em troca do que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão
resistente. Ogum aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe
o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em
que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua lança de ferro. Mas, apesar de
Ogum ter aceitado o comendo dos Orixás, antes de mais nada ele era um caçador.
Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil
temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os Orixás não
gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram
destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com os Orixás, pois, quando
precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que
não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de
palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê,
construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá permaneceu. Os humanos que
receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro,
celebravam a festa de Uidê Ogum. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos
outros fazem sacrifícios em memória de Ogum. Ogum é o senhor do ferro para
sempre.
Ogum livra um pobre de seus exploradores
Um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra
plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o
que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalaô, que o mandou fazer um
ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo
tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da
presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata.
Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se
com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava
naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que
ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das
casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela
noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o
chão. E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo
mariwo.
Ogum chama a Morte para ajuda-lo numa aposta com Xangô
Ogum e Xangô nunca se reconciliaram. Vez por outra digladiavam-se nas mais
absurdas querelas. Por pura satisfação do espírito belicoso dos dois. Eram, os
dois, magníficos guerreiros. Certa vez Ogum propôs a Xangô uma trégua em suas
lutas, pelo menos até que a próxima lua chegasse. Xangô fez alguns gracejos,
Ogum revidou, mas decidiram-se por uma aposta, continuando assim sua disputa
permanente. Ogum propôs que ambos fossem a praia e recolhessem o maior número
de búzios que conseguissem. Quem juntasse mais, ganharia. E quem perdesse daria
ao vencedor o fruto da coleta. Puseram-se de acordo.
Ogum deixou Xangô e seguiu para a casa de Iansã, solicitando-lhe que pedisse a
Iku (a morte) que fosse à praia no horário que tinha combinado com Xangô. Na
manhã seguinte, Ogum e Xangô apresentaram-se na praia e imediatamente o
enfrentamento começou. Cada um ia pegando os búzios que achava. Xangô
cantarolava sotaques jocosos contra Ogum. Ogum, calado, continuava a coleta. O
que Xangô não percebeu foi a aproximação de Iku. Ao erguer os olhos, o
guerreiro deparou com a morte, que riu de seu espanto. Xangô soltou o saco da
coleta, fugindo amedrontado e escondendo-se de Iku. À noite Ogum procurou
Xangô, mostrando seu espólio. Xangô, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou
ao guerreiro o fruto de sua coleta.
LENDAS
DE XANGÔ
A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um
inimigo que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as
ordens era aniquilar o exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam
prisioneiros eram barbaramente aniquilados, destroçados, mutilados e seus
pedaços jogados ao pé da montanha onde Xangô estava. Isso provocou a ira de
Xangô que num movimento rápido, bate com o seu machado na pedra provocando
faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia mais os raios ganhavam
forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios que todos os
inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô saíra
vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam os mesmo tratamento
dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso
não concordou com Xangô. - Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da
justiça, eram guerreiros cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios,
dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida
libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô,
passaram a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
A Lenda da Riqueza de Obará
Eram dezesseis irmãos, Okaram, Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí,
Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin, Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia
e Obará. Entre todos Obará era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no
meio da floresta, com sua vida humilde e simples.
Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao babalaô para fazer suas consultas,
e prontamente o babalaô perguntou: Onde está o irmão mais pobre? Os outros
irmão disseram-lhe que avia se adoentado e não poderia comparecer, mas na
verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. Como era de costume o babalaô
presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a
consulta foram todos a caminho de casa. Enquanto caminhavam, maldiziam o
presente dado pelo babalaô, Morangas? Isso é presente que se dê? Abóboras?
A noite se aproximava e a casa de Obará estava perto, resolveram então passar a
noite lá. Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos,
Obará pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com
tudo o que havia para comer na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem
agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a
come-las.
Na hora do almoço, a esposa de Obará lhe disse que não havia mais nada o que
comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as
fizesse assim mesmo. Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias
riquezas em ouro e pedras preciosas e Obará prosperou.
Tempos depois, os irmãos de Obará passavam por tempos de miséria, e foram ao
Babalaô para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão
saldando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva
entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão
Obará e perguntaram ao Babalaô como poderia ser possível e ele respondeu:
Lembram-se das abóboras que vos dei, dentro haviam riquezas em pedras e ouro
mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre
tornou-se o mais rico.
Foram então os irmãos ao palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e
lá chegando, disseram à Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o
fez, mas antes esvaziou todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me
deram para comer, agora são vocês que as comerão. E quando o babalaô em visita
ao palácio de Obará lhe disse: Enquanto não revelares o que tens, tu sempre
terás. E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode
revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.
LENDAS DE IANSÃ
Iansã Passa a Dominar o Fogo
Xangô enviou-a em missão na terra dos baribas, a fim de buscar um preparado
que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela boca e pelo
nariz. Oiá, desobedecendo às instruções do esposo, experimentou esse preparado,
tornando-se também capaz de cuspir fogo, para grande desgosto de Xangô, que
desejava guardar só para si esse terrível poder.
Como os chifres de búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de
Oià-Iansã
Ogum foi caçar na floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que
vinha em sua direção. Preparava-se para matá-lo quando o animal, parando
subitamente, retirou a sua pele. Uma linda mulher apareceu diante de seus
olhos, era Iansã. Ela escondeu a pele num formigueiro e dirigiu-se ao mercado
da cidade vizinha. Ogum apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de um
depósito de milho, ao lado de sua casa, indo, em seguida, ao mercado fazer a
corte à mulher-búfalo. Ele chegou a pedi-la em casamento, mas Oiá recusou
inicialmente. Entretanto, ela acabou aceitando, quando de volta a floresta, não
mais achou a sua pele. Oiá recomendou ao caçador a não contar a ninguém que, na
realidade, ela era um animal. Viveram bem durante alguns anos. Ela teve nove
crianças, o que provocou o ciúme das outras esposas de Ogum. Estas, porém,
conseguiram descobrir o segredo da aparição da nova a mulher. Logo que o marido
se ausentou, elas começaram a cantar: 'Máa je, máa mu, àwo re nbe nínú àká',
'Você pode beber e comer (e exibir sua beleza), mas a sua pele está no depósito
(você é um animal)’. Oiá compreendeu a alusão; encontrando a sua pele, vestiu-a
e, voltando à forma de búfalo, matou as mulheres ciumentas. Em seguida, deixou
os seus chifres com os filhos, dizendo: 'Em caso de necessidade, batam um
contra o outro, e eu virei imediatamente em vosso socorro.' É por essa razão
que chifres de búfalo são sempre colocados nos locais consagrados a Iansã.
As Conquistas de Iansã
Iansã percorreu vários reinos, foi paixão de Ogum, Oxaguian, Exu, Oxossi e
Logun-Edé. Em Ifé, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu
com ele e ganhou o direito do manuseio da espada. Em Oxogbô, terra de Oxaguian,
aprendeu e recebeu o direito de usar o escudo. Deparou-se com Exu nas estradas,
com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de
Oxossi, seduziu o deus da caça, aprendendo a caçar, tirar a pele do búfalo e se
transformar naquele animal (com a ajuda da magia aprendida com Exu). Seduziu o
jovem Logun-Edé e com ele aprendeu a pescar. Iansã partiu, então, para o reino
de Obaluaiê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu
rosto, mas nada conseguiu pela sedução. Porém, Obaluaiê resolveu ensinar-lhe a
tratar dos mortos. De início, Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi
mais forte e aprendeu a conviver com os Eguns e controlá-los. Partiu, então,
para Oyó, reino de Xangô, e lá acreditava que teria o mais vaidoso dos reis, e
aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã
aprendeu muito mais, aprendeu a amar verdadeiramente e com uma paixão violenta,
pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.
Iansã Ganha de Obaluaiê o Poder Sobre os Mortos
Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaiê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaiê não podia entrar na
festa, devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do
terreiro. Ogum, ao perceber a angústia do Orixá, cobriu-o com uma roupa de
palha, com um capuz que ocultava seu rosto doente, e convidou-o a entrar e
aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaiê entrou, mas
ninguém se aproximava dele, nenhuma mulher quis dançar com ele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de
Obaluaiê e dele se compadecia. Iansã esperou que ele estivesse bem no centro do
barracão. O xirê (festa, dança, brincadeira) estava animado. Os orixás dançavam
alegremente com suas ekedes. Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas
roupas de palha com seu vento. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas
de Obaluaiê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se
espalharam brancas pelo barracão. Obaluaiê, o deus das doenças, transformara-se
num jovem belo e encantador.
O povo o aclamou por sua beleza. Obaluaiê ficou mais do que contente com a
festa, ficou grato. E, em recompensa, dividiu com ela o seu reino. Iansã então
dançou e dançou de alegria. Para mostrar a todos seu poder sobre os mortos,
quando ela dançava agora, agitava no ar o eruexim (o espanta-mosca com que
afasta os eguns para o outro mundo). Iansã tornou-se Iansã de Balé, a rainha
dos espíritos dos mortos, a condutora dos eguns, rainha que foi sempre a grande
paixão de Obaluaiê.
Iansã - Orixá dos Ventos e da Tempestade !!!
Oxaguiam (Oxalá novo e guerreiro) estava em guerra, mas a guerra não acabava
nunca, tão poucas eram as armas para guerrear. Ogum fazia as armas, mas fazia
lentamente. Oxaguiam pediu a seu amigo Ogum urgência, Mas o ferreiro já fazia o
possível. O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova
tardava como o tempo. Tanto reclamou Oxaguiam que Oiá, esposa do ferreiro,
resolveu ajudar Ogum a apressar a fabricação. Oiá se pôs a soprar o fogo da
forja de Ogum e seu sopro avivava intensamente o fogo e o fogo aumentado
derretia o ferro mais rapidamente. Logo Ogum pode fazer muitas armas e com as
armas Oxaguiam venceu a guerra. Oxaguiam veio então agradecer Ogum. E na casa
de Ogum enamorou-se de Oiá. Um dia fugiram Oxaguiam e Oiá, deixando Ogum
enfurecido e sua forja fria. Quando mais tarde Oxaguiam voltou à guerra e
quando precisou de armas muito urgentemente, Oiá teve que voltar a avivar a
forja. E lá da casa de Oxaguiam, onde vivia, Oiá soprava em direção à forja de
Ogum. E seu sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Oxaguiam da
de Ogum. E seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o
mais pelo caminho, até chegar às chamas com furor. E o povo se acostumou com o
sopro de Oiá cruzando os ares e logo o chamou de vento. E quanto mais a guerra
era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oiá a
forja de Ogum. Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas,
arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias. O povo reconhecia o sopro
destrutivo de Oiá e o povo chamava a isso tempestade.
Como Oxossi Virou Orixá
Odé era um grande caçador. Certo dia, ele saiu para caçar sem antes consultar o
oráculo Ifá nem cumprir os ritos necessários. Depois de algum tempo andando na
floresta, encontrou uma serpente: era Oxumaré em sua forma terrestre. A cobra
falou que Odé não devia matá-la; mas ele não se importou, matou-a, cortou-a em
pedaços e levou para casa, onde a cozinhou e comeu; depois foi dormir. No outro
dia, sua esposa Oxum encontrou-o morto, com um rastro de cobra saindo de seu
corpo e indo para a mata. Oxum tanto se lamentou e chorou, que Ifá o fez
renascer como Orixá, com o nome de Oxossi.
Orixá da Caça e da Fartura !!!
Em tempos distantes, Odùdùwa, Rei de Ifé, diante do seu Palácio Real, chefiava
o seu povo na festa da colheita dos inhames. Naquele ano a colheita havia sido
farta, e todos em homenagem, deram uma grande festa comemorando o acontecido,
comendo inhame e bebendo vinho de palma em grande fartura. De repente, um
grande pássaro, pousou sobre o Palácio, lançando os seus gritos malignos, e
lançando farpas de fogo, com intenção de destruir tudo que por ali existia,
pelo fato de não terem oferecido uma parte da colheita as feiticeiras Ìyamì
Òsóróngà. Todos se encheram de pavor, prevendo desgraças e catástrofes. O Rei
então mandou buscar Osotadotá, o caçador das 50 flechas, em Ilarê, que,
arrogante e cheio de si, errou todas as suas investidas, desperdiçando suas 50
flechas. Chamou desta vez, das terras de Moré, Osotogi, com suas 40 flechas.
Embriagado, o guerreiro também desperdiçou todas suas investidas contra o grande
pássaro. Ainda foi, convidado para grande façanha de matar o pássaro, das
distantes terras de Idô, Osotogum, o guardião das 20 flechas. Fanfarrão, apesar
da sua grande fama e destreza, atirou em vão 20 flechas, contra o pássaro
encantado e nada aconteceu. Por fim, todos já sem esperança, resolveram
convocar da cidade de Ireman, Òsotokànsosó, caçador de apenas uma flecha. Sua
mãe, sabia que as èlèye viviam em cólera, e nada poderia ser feito para
apaziguar sua fúria a não ser uma oferenda, uma vez que três dos melhores
caçadores
falharam em suas tentativas. Ela foi consultar Ifá para Òsotokànsosó. Os
Babalaôs disseram para ela preparar oferendas com ekùjébú (grão muito duro),
também um frango òpìpì (frango com as plumas crespas), èkó (massa de milho envolta
em folhas de bananeira), seis kauris (búzios). A mãe de Òsotokànsosó fez então
assim, pediram ainda que, oferecesse colocando sobre o peito de um pássaro
sacrificado em intenção e que oferecesse em uma estrada, e durante a oferenda
recitasse o seguinte: "Que o peito da ave receba esta oferenda".
Neste exato momento, o seu filho disparava sua única flecha em direção ao
pássaro, esse abriu sua guarda recebendo a oferenda ofertada pela mãe do
caçador, recebendo também a flecha certeira e mortal de Òsotokànsosó. Todos
após tal ato, começaram a dançar e gritar de alegria: "Oxossi!
Oxossi!" (Caçador do povo). A partir desse dia todos conheceram o maior
guerreiro de todas as terras, foi referenciado com honras e carrega seu título
até hoje. Oxossi.
LENDAS
DE OBALUAIÊ
Orixá da cura, continuidade e da existência !!!
Chegando de viagem à aldeia onde nascera, Obaluaiê viu que estava acontecendo
uma festa com a presença de todos os orixás. Obaluaiê não podia entrar na
festa, devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do
terreiro. Ogum, ao perceber a angústia do Orixá, cobriu-o com uma roupa de
palha, com um capuz que ocultava seu rosto doente, e convidou-o a entrar e
aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obaluaiê entrou, mas
ninguém se aproximava dele. Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela
compreendia a triste situação de Obaluaiê e dele se compadecia. Iansã esperou
que ele estivesse bem no centro do barracão. O xirê (festa, dança, brincadeira)
estava animado. Os orixás dançavam alegremente com suas ekedes. Iansã chegou
então bem perto dele e soprou suas roupas de palha com seu vento. Nesse momento
de encanto e ventania, as feridas de Obaluaiê pularam para o alto,
transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obaluaiê, o deus das doenças, transformara-se num jovem belo e encantador.
Obaluaiê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o
mundo dos espíritos dos mortos, partilhando o poder único de abrir e
interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
Xapanã, rei de Nupê.
Xapanã, originário de Tapa, leva seus guerreiros para uma expedição aos quatro
cantos da terra. Uma pessoa ferida por suas flechas ficava cega, surda ou
manca, Obaluaê-Xapanã chega ao território de Mahi no norte de Daomé, matando e
dizimando todos os seus inimigos e começa a destruir tudo o que encontra a sua
frente. Os Mahis foram consultar um Babalaô e o mesmo ensinou-os como fazer para
acalmar Xapanã. O Babalaô diz que estes deveriam tratá-lo com pipocas, que isso
iria tranquiliza-lo, e foi o que aconteceu. Xapanã tornou-se dócil. Xapanã
contente com as atenções recebidas mandou construir um palácio onde foi viver e
não mais voltou ao país Empê. O Mahi prosperou e tudo se acalmou.
As Duas Mães de Obaluaiê
Filho de Oxalá e Nanã, nasceu com chagas, uma doença de pele que fedia e
causava medo aos outros, sua mãe Nanã morria de medo da varíola, que já havia
matado muita gente no mundo. Por esse motivo Nanã, o abandonou na beira do mar.
Ao sair em seu passeio pelas areias que cercavam o seu reino, Iemanjá encontrou
um cesto contendo uma criança. Reconhecendo-a como sendo filho de Nanã, pegou-a
em seus braços e a criou como seu filho em seus seios lacrimosos. O tempo foi
passando e a criança cresceu e tornou um grande guerreiro, feiticeiro e
caçador. Se cobria com palha da costa, não para esconder as chagas com a qual
nasceu, e sim porque seu corpo brilhava como a luz do sol. Um dia Iemanjá
chamou Nanã e apresentou-a a seu filho Xapanã, dizendo: Xapanã, meu filho
receba Nanã sua mãe de sangue. Nanã, este é Xapanã nosso filho. E assim Nanã
foi perdoada por Omulu e este passou a conviver com suas duas mães.
LENDAS
DE IBEIJI
Como Os Irmãos Ibeiji Viraram Orixá
Existia num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os
problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas
e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando
próximos a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino
ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha
mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a
orumilá que o levasse para perto do irmão. Sensibilizado pelo pedido, orumilá
resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas
imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos
pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.
LENDAS
DE OSSÃE
Ossãe recusa-se a cortar as ervas miraculosas
Ossãe era o nome de um escravo que foi vendido a Orumilá. Um dia ele foi à
floresta a lá conheceu Aroni, que sabia tudo sobre as plantas. Aroni, o gnomo
de uma perna só, ficou amigo de Ossãe e ensinou-lhe todo o segredo das ervas.
Um dia, Orumilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossãe que
roçasse o mato de suas terras. Diante de uma planta que curava dores, Ossãe
exclamava: "Esta não pode ser cortada, é as erva as dores". Diante de
uma planta que curava hemorragias, dizia: "Esta estanca o sangue, não deve
ser cortada". Em frente de uma planta que curava a febre, dizia:
"Esta também não, porque refresca o corpo". E assim por diante.
Orumilá, que era um babalaô muito procurado por doentes, interessou-se então
pelo poder curativo das plantas e ordenou que Ossãe ficasse junto dele nos
momentos de consulta, que o ajudasse a curar os enfermos com o uso das ervas
miraculosas. E assim Ossãe ajudava Orumilá a receitar a acabou sendo conhecido
como o grande médico que é.
Ossãe dá uma folha para cada Orixá
Ossãe, filho de Nanã e irmão de Oxumarê, Ewá e Obaluaiê, era o senhor das
folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o
mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossãe para curar qualquer
moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossãe na luta contra a
doença. Todos iam à casa de Ossãe oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossãe
lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens.
Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e
fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele
purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam
compartilhar o poder de Ossãe, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.
Xangô sentenciou que Ossãe dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas
Ossãe negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás. Xangô então ordenou
que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas
de Ossãe para que fossem distribuídas aos Orixás. Iansã fez o que Xangô
determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou
pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossãe percebeu o que estava acontecendo e gritou: "Euê Uassá!" -
"As folhas funcionam!". Ossãe ordenou às folhas que voltassem às suas
matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossãe. Quase todas as folhas
retornaram para Ossãe. As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé,
perderam o poder da cura. O Orixá Rei, que era um orixá justo, admitiu a
vitória de Ossãe. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossãe
e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossãe, contudo, deu uma folha
para cada Orixá cada qual, com seus axés e seus efós, que são as cantigas de
encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossãe distribuiu as folhas
aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar
proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossãe
não conta seus segredos para ninguém, Ossãe nem mesmo fala. Fala por ele seu
criado Aroni. Os Orixás ficaram gratos a Ossãe e sempre o reverenciam quando
usam as folhas.
LENDAS
DE EWÁ
Porque Ewá Não Aceita Galinha
Ewá, certa vez indo para o rio lavar roupa, ao acabar, estendeu-a para secar.
Nesse espaço veio a galinha e ciscou, com os pés, toda sujeira que se
encontrava no local, para cima da roupa lavada, tendo Ewá que tornar a lavar.
Enraivecida, amaldiçoou a galinha, dizendo que daquele dia em diante haveria de
ficar com os pés espalmados e que nem ela nem seus filhos haveriam de comê-la,
daí, durante os rituais de Ewá, galinha não passar nem pela porta.
Ewá - Orixá dos horizontes e fontes!
Conta-se uma lenda, que Ewá era esposa de Omulu, e era estéril, não podendo conceder
um filho ao seu grande amado, sofrendo muito por isso.
Em uma bela tarde, a dona dos horizontes, estava-se a deleitar as margens de um
rio, juntamente com suas serviçais que lavavam vários alás (panos brancos). De
repente, surge de dentro da floresta a figura de uma pessoa, que corria muito e
muito assustado.
- Como ousas interromper o deleite da mulher de Omulu, quem é você ? indagou
Ewá, sobre a irreverência do rapaz.
- Ewá ! não era minha intenção interromper tão sagrado ato, oh! esposa de
Obaluaiê! Porém Ikú (a morte), persegue-me a vários dias e preciso escapar
dela, pois tenho ainda um grande destino a seguir. Peço sua ajuda Ewá, peço que
me escondas para que Ikú não me pegue ?!
- Gostei de você e vou ajudá-lo, esconda-se sobre os alás que minhas serviçais
estão a lavar, e eu despistarei Ikú de seu caminho.
E assim foi feito, o jovem rapaz pôs a se esconder sobre os panos brancos.
Alguns minutos se passaram, e eis que aparece Ikú. A morte!
- Como ousas adentrar aos domínios de minha morada, quem és tu ? Pergunta
Ewá com ar de indignada.
- Sou Ikú, e entro onde as pessoas menos esperam, entro e carrego comigo, dezenas,
centenas e até milhares de pessoas ! Porém hoje estou a procurar um jovem
rapaz, que está a me escapar a dias, você o viu passar por aqui?
Perguntou Ikú para Ewá.
- Eu o vi sim Ikú, ele foi naquela direção. - Ewá apontava para um direção
totalmente oposta ao das suas aldeãs, que estavam a esconder o jovem rapaz. Ikú
agradeceu e seguiu pelo caminho indicado. Sendo assim, o rapaz pode se desfazer
de seu esconderijo e agradeceu Ewá.
- Ewá, agradeço sua ajuda, terei tempo agora, de prosseguir meu caminho. Sou um
grande adivinho, e em sinal de minha gratidão, a partir de hoje presenteio-lhe
com o dom da adivinhação. Ewá, agradeceu o presente dado pelo rapaz, que já
havia se virado para ir embora, quando retornou e falou a Ewá.
- Sim eu sei, você não pode ter filhos, pois lhe dou isso também, a partir de
hoje poderá ter filhos e alegrar ao seu marido.
Então Ewá, agradeceu novamente muito contente e perguntou ao jovem rapaz.
- Qual é seu nome ?
E o rapaz respondeu...
- Meu nome é Ifá !
LENDAS
DE OBÁ
OBÁ — Orixá Guerreira e Das Águas Revoltas !!!
Obá vivia em companhia de Oxum e Iansã, no reino de Oyó, como uma das esposas
de Xangô, dividindo a preferência do reverenciado Rei entre as duas Iabás
(Orixás femininos).
Obá percebia o grande apreço que Xangô tinha por Oxum, que mimosa e dengosa,
atendia sempre a todas as preferencias do Rei, sempre servindo e agradando aos
seus pedidos. Obá resolveu então, perguntar para Oxum qual era o grande segredo
que ela tinha, para que levasse a preferência do amor de Xangô, vez que Iansã,
andava sempre com o Rei em batalhas e conquistas de reinados e terras, pelo seu
gênio guerreiro e corajoso e Obá era sempre desprezada e deixada por último na
lista das esposas de Xangô. Oxum então, matreira e esperta, falou que seu
segredo era em como preparar o amalá de Xangô principal comida do Rei, que lhe
servia sempre que deseja-se bons momentos ao lado do patrono da justiça.
Obá, como uma menina ingênua, escutou e registrou todos os ingredientes que
Oxum falava, sendo que por fim Oxum, falou que além de tudo isso, tinha cortado
e colocado uma de suas orelhas na mistura do amalá para enfeitiçar Xangô. Obá
agradeceu a sinceridade de Oxum e saiu para fazer um amalá em louvor ao Rei,
enquanto Oxum, ria da ingenuidade de Obá que, sempre atenta a tudo, não
percebeu que Oxum mentira, pois ela encontrava-se com suas duas orelhas, e
falará isso somente para debochar de Obá. Obá em grande sinal de amor pelo seu
Rei, preparou um grande amalá, e por fim cortou uma de suas orelhas colocando
na mistura e oferecendo à Xangô como gesto de seu sublime amor. Xangô ao
receber a comida, percebeu a orelha de Obá na mistura, e esbravejou e gritou.
Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e se transformaram nos rios que levam os seus
nomes. No local de confluência dos dois cursos de água, as ondas tornam-se
muito agitadas em conseqüência da disputa entre as duas divindades. E, até hoje
quando manifestadas em seus iaôs elas dançam simbolizando uma luta.
A Luta de Obá e Ogum
Obá certa vez desafiou Ogum para um combate. O guerreiro, porém antes da luta
foi consultar um Babalaô, que o ensinou a fazer uma pasta de milho e quiabo
pilados. Ogum esfregou esta pasta no local destinado ao combate. Obá perdeu o
equilíbrio, escorregou e caiu no chão. Ogum aproveitou-se disso e ganhou a
luta.
LENDAS
DE LOGUM
EDÉ
Logum Edé é salvo das águas
Oxum proibiu Logum Edé de brincar nas águas fundas, pois os rios eram
traiçoeiros para uma criança de sua idade. Mas Logum Edé era curioso e vaidoso
como os pais. Logum Edé não obedecia à mãe. Um dia Logum Edé nadou rio adentro,
para bem longe da margem. Obá, dona daquele rio, para vingar-se de Oxum, com
quem mantinha antigas querelas, começou a afogar Logum Edé. Oxum ficou
desesperada e pediu a Orumilá que lhe salvasse o filho, que a amparasse no seu
desespero de mãe. Orumilá que sempre atendia à filha de Oxalá, retirou o
príncipe das águas traiçoeiras e o trouxe de volta à terra. Então deu-lhe a
missão de proteger os pescadores e a todos que vivessem das águas doces. Alguns
dizem que Iansã foi quem retirou Logum Edé da água e terminou de criá-lo
juntamente com Ogum.
Logum Edé - O Orixá da Magia e da Boa Sorte
Estava Oxossi o rei da caça a caminhar por um lindo bosque em companhia de sua
amada esposa Oxum, dona da beleza da riqueza e portadora dos segredos da
maternidade.
Quando de seu passeio, foi avistado por Oxum um lindo menino que estava à beira
do caminho a chorar, encontrando-se perdido. Oxum de pronto agrado, acolheu e
amparou o garoto, onde surgiu nesse exato momento uma grande identificação,
entre ele, Oxum e Oxossi. Durante muitos anos Oxum e Oxossi, cuidaram e
protegeram-lhe, sendo que, Oxum procurou durante todo esse tempo a mãe do
menino, porém sem sucesso, resolveu tê-lo como próprio filho. O tempo foi
passando e Oxossi, vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o com pele
de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como
manejar e empunhar o arco e a flecha, ensinou os princípios da fraternidade
para com as pessoas e o dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a
ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia e a destreza, provenientes de um
verdadeiro caçador. Oxum por sua vez, ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom
da elegância e da vaidade, ensinou a arte da feitiçaria, o poder da sedução, a
viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces, ensinou seus segredos e
mistérios. Foi batizado por sua mãe e por seu pai de Logum Edé, o príncipe das
matas e o caçador sobre as águas. Viveu durante anos sobre a proteção de pai e
mãe, tornando-se um só, aprendendo a ser homem, justo e bondoso, herdando a
riqueza de Oxum e a fartura de Oxossi, adquirindo princípios de um e de outro,
tornando-se herdeiro até nos dias de hoje de tudo que seu pai Oxossi carrega e
sua mãe Oxum leva. Esse é Logum Edé.
Logum Edé ganha domínio dado por Olorum
No início dos tempos, cada orixá dominava um elemento da natureza, não
permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a
um tesouro. É nesse contexto que vivia a mãe das água doces, Oxum, e o grande
caçador Oxossi. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de
seus respectivos reinados, que eram muito próximos. Oxossi ficava extremamente
irritado quando o volume das águas aumentavam e transbordavam de seus
recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta.
Oxum argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e
fertilização da terra, missão que recebera de Olorum. Oxossi não lhe dava
ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação. Olorum resolveu
intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar
apaziguá-los. A floresta de Oxossi logo começou a sentir os efeitos da ausência
das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não
era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para
beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras.
Oxossi não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro
lugar. Oxum, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos
animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a
companhia de seus filhos peixes para confortá-la.
Oxossi andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caça
em lugar algum. Em todos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A
floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada. Desesperado, foi até
Olorum pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior
sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas
não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A
única salvação era a reconciliação. Oxossi, então, colocou seu orgulho de lado
e foi procurar Oxum, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não
aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxum queria que Oxossi se
desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus
reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a benção de
Olorum.
Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logum Edé, que iria consolidar
esse "casamento", bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logum
Edé sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia
uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias,
bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza,
agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade. Conta
uma outra lenda que as terras e as águas estavam no mesmo nível, não havendo
limites definidos. Logum Edé, que transitava livremente por esses dois
domínios, sempre tropeçava quando passava de um reinado para o outro. Esses
acidentes deixavam Logum Edé muito irritado. Um dia, após ter ficado seis meses
vivendo na água, tentou fazer a transição para o reinado de seu pai, mas não conseguiu,
pois a terra estava muito escorregadia. Voltou, então, para o fundo do rio,
onde começou a cavar freneticamente, com a intenção de suavizar a passagem da
água para a terra. Com essa escavação, machucou suas mãos, pés e cabeça, mas
conseguiu fazer uma passagem, que tornou mais fácil sua transição. Logum Edé
criou, assim, as margens dos rios e córregos, onde passou a dominar. Por esse
motivo, suas oferendas são bem aceitas nesse local.
Logum Edé Rouba Segredos De Oxalá
Logum Edé era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador
pretensioso e ganancioso, e muitos os bajulavam pela sua formosura. Um dia
Oxalá conheceu Logum Edé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção. Deu
a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logum Edé queria mais, queria
muito mais...
E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra,
confiando na honestidade de Logum Edé. O caçador guardou seu furto num embornal
a tiracolo, seu adô. Deu as costas a Oxalá e fugiu. Não tardou para Oxalá
dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. Oxalá fez todos os
sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda a vez que
Logum Edé usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio:
"Que maravilha o milagre de Oxalá!". Toda a vez que usasse seus
segredos alguma arte não roubada ia faltar.
Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena
imposta. O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação.
Oxalá determinou que Logum Edé fosse homem num período e no outro depois fosse
mulher. Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a
floresta vivendo de caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Começar sempre
de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho
de Logum Edé. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logum Edé
um orixá.
LENDAS
DE EXÚ
Porque Exú Recebe Oferendas Antes Dos Outros Orixás
Exu foi o primeiro filho de Iemanjá e Oxalá. Ele era muito levado e gostava de
fazer brincadeiras com todo mundo. Tantas fez que foi expulso de casa. Saiu
vagando pelo mundo, e então o país ficou na miséria, assolado por secas e
epidemias. O povo consultou Ifá, que respondeu que Exu estava zangado porque
ninguém se lembrava dele nas festas; e ensinou que, para qualquer ritual dar
certo, seria preciso oferecer primeiro um agrado a Exu. Desde então, Exu recebe
oferendas antes de todos, mas tem que obedecer aos outros Orixás, para não
voltar a fazer tolices.
Vingança de Exú
Um homem rico tinha uma grande criação de galinhas. Certa vez, chamou um
pintinho muito travesso de Exú, acrescentando vários xingamentos. Para se
vingar, Exú fez com que o pinto se tornasse muito violento. Depois que se
tornou galo, ele não deixava nenhum outro macho sossegado no galinheiro: feria
e matava todos os que o senhor comprava. Com o tempo, o senhor foi perdendo a
criação e ficou pobre. Então, perguntou a um babalaô o que estava acontecendo.
O sacerdote explicou que era uma vingança de Exú e que ele precisaria fazer um
ebó pedindo perdão ao Orixá. Amedrontado, o senhor fez a oferenda necessária e
o galo se tornou calmo, permitindo que ele recuperasse a produção.
Exú Instaura O Conflito Entre Iemanjá, Oiá E Oxum
Um dia, foram juntas ao mercado Iansã e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá,
esposa de Ogum. Exú entrou no mercado conduzindo uma cabra, viu que tudo estava
em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de Iemanjá, Iansã e Oxum e
disse que tinha um compromisso importante com Orumilá.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios.
Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum
concordaram e Exú partiu. A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Iansã
e Oxum puseram os dez búzios de Exú a parte e começaram a dividir os dez búzios
que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma
delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais.
Da mesma forma Iansã e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por
igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.
Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção.
Portanto, eu pegarei um búzio a mais”. Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá,
afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que
por isso lhe cabia.
Iansã intercedeu, dizendo que, em caso de contenda semelhante, a maior parte
caberia à do meio. As três não conseguiam resolver a discussão.
Não havia meio de resolver a divisão. Exú voltou ao mercado para ver como
estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo equitativo.
Exú deu três a Iemanjá, três a Oiá e três a Oxum. O décimo búzio ele segurou.
Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exú disse que o búzio extra
era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se
uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos
antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu.
Assim também na terra deve ser. Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se
dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”
Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exú estava certo. E concordaram em aceitar
três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais
cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte
importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da
fortuna.
Exú Torna-Se O Amigo Predileto De Orumilá
Como se explica a grande amizade entre Orumilá e Exú, visto que eles são
opostos em grandes aspectos?
Orumilá, filho mais velho de Olorum, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento
do destino pelos búzios. Exú, pelo contrário, sempre se esforçou para criar
mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orumilá era calmo
e Exú, quente como o fogo.
Mediante o uso de conchas adivinhas, Orumilá revelava aos homens as intenções
do supremo deus Olorum e os significados do destino. Orumilá aplainava os
caminhos para os humanos, enquanto Exú os emboscava na estrada e fazia incertas
todas as coisas. O caráter de Orumilá era o destino, o de Exú, era o acidente.
Mesmo assim ficaram amigos íntimos.
Uma vez, Orumilá viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séquito não
levavam nada, mas Orumilá portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os
Obis que usava para ler o futuro.
Mas na comitiva de Orumilá muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de
sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para
carregar a sacola de Orumilá. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles
discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.
Até que Orumilá encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu
mesmo carrego a sacola".
Quando Orumilá chegou em casa, refletiu sobre o incidente e quis saber quem
realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os
falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e
escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orumilá esperou.
Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem
lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orumilá e que muitas
vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orumilá lhe teria
deixado seus instrumentos de adivinhar.
A esposa de Orumilá pareceu compreendê-lo, mas disse que a sacola havia
desaparecido. E o homem foi embora frustrado. Outro homem veio chorando, com
artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos
os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exú chegou.
Exú também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a
tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela
concordou e perguntou se Orumilá não lhe devia nada. Exú disse que não. A esposa
de Orumilá persistiu, perguntando se Exú não queria a parafernália de
adivinhação. Exú negou outra vez. Aí Orumilá entrou na sala, dizendo:
"Exú, tu és sim meu verdadeiro amigo!". Depois disso nunca teve
amigos tão íntimos, tão íntimos como Exú e Orumilá.
Exú Leva Aos Homens O Oráculo De Ifá
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles
não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada
vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras
assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se
perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens?
Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos
deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes,
pobres, infelizes. Um dia Exú pegou a estrada e foi em busca de solução. Exú
foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos
homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens
com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exú matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que
comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se
preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os
homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles
alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para
tanto, desejem continuar vivos".
Exú retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu
sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens
alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça. Eu conheço algo
que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de
dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás
conquistar os homens".
Exú foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis
cocos. Exú pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos
então lhe disseram: "Exú, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de
palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam
esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que
significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras
dezesseis odus, recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada
história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai
juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás
dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina
aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exú de novo".
Exú fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exú mostrou
aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito
bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens
então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos
do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que
eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles
aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os
ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para
os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exú trouxe
aos homens o Oráculo de Ifá.
LENDAS DOS IROKO-TEMPO - IFÁ-ORUMILÁ
Iroko Castiga A Mãe Que Não Lhe Dá O Filho Prometido
No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Irôco, mais antiga que o
mogno, o pé de obi e o algodoeiro. Na mais velha das árvores de Irôco, morava
seu espírito. E o espírito de Irôco era capaz de muitas mágicas e magias. Irôco
assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saia com uma tocha na mão,
assustando os caçadores. Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras
que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o
mal. Todos temiam Irôco e seus poderes e quem o olhasse de frente enlouquecia
até a morte.
Numa certa época, nenhuma das mulheres da aldeia engravidava. Já não havia
crianças pequenas no povoado e todos estavam desesperados. Foi então que as
mulheres tiveram a idéia de recorrer aos mágicos poderes de Irôco. Juntaram-se
em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas
voltadas para o tronco. Não ousavam olhar para a grande planta face a face.
Suplicaram a Irôco, pediram a ele que lhes desse filhos. Ele quis logo saber o
que teria em troca. As mulheres eram, em sua maioria, esposas de lavradores e
prometeram a Iroko milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros. Cada uma
prometia o que o marido tinha para dar. Uma das suplicantes, chamada Olurombi,
era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer.
Olurombi não sabia o que fazer e, no desespero, prometeu dar a Irôco o primeiro
filho que tivesse.
Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos. As
jovens mães, felizes e gratas, foram levar a Irôco suas prendas. Em torno do
tronco de Irôco depositaram suas oferendas. Assim Irôco recebeu milho, inhame,
frutas, cabritos e carneiros. Olurombi contou toda a história ao marido, mas
não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino
prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços
trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido. E o tempo passou. Olurombi mantinha
a criança longe da árvore e, assim, o menino crescia forte e sadio. Mas um belo
dia, passava Olurombi pelas imediações do Irôco, entretida que estava, vindo do
mercado, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível
espírito da árvore. Disse Irôco: "Tu me prometeste o menino e não
cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas
sempre aprisionada em minha copa." E transformou Olurombi num pássaro e
ele voou para a copa de Irôco para ali viver para sempre.
Olurombi nunca voltou para casa, e o entalhador a procurou, em vão, por toda
parte. Ele mantinha o menino em casa, longe de todos. Todos os que passavam
perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda
feita a Irôco. Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio
escutou o tal pássaro, que cantava assim: "Uma prometeu milho e deu o
milho; Outra prometeu inhame e trouxe inhames; Uma prometeu frutas e entregou
as frutas; Outra deu o cabrito e outra, o carneiro, sempre conforme a promessa
que foi feita. Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido."
Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi
entendeu tudo imediatamente. Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Irôco.
Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto seu pequeno filho?
Ele pensou e pensou e teve uma grande idéia. Foi à floresta, escolheu o mais
belo lenho de Irôco, levou-o para casa e começou a entalhar. Da madeira
entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia
esculpido.
O fez com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente. Depois
poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas
sagradas. Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou
com ricas joias de família e raros adornos. Quando pronto, ele levou o menino
de pau a Irôco e o depositou aos pés da árvore sagrada. Irôco gostou muito do
presente. Era o menino que ele tanto esperava! E o menino sorria sempre, sua
expressão, de alegria.
Irôco apreciou sobremaneira o fato de que ele jamais se assustava quando seus
olhos se cruzavam. Não fugia dele como os demais mortais, não gritava de pavor
e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente. Irôco estava feliz.
Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia ritmada mente com os pés
no solo e cantava animadamente. Tendo sido paga, enfim, a antiga promessa,
Irôco devolveu a Olurombi a forma de mulher. Aliviada e feliz, ela voltou para
casa, voltou para o marido artesão e para o filho, já crescido e enfim
libertado da promessa. Alguns dias depois, os três levaram para Irôco muitas
oferendas. Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços
de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore. Eram presentes
oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de
Olurombi. Até hoje todos levam oferendas a Irôco. Porque Irôco dá o que as
pessoas pedem. E todos dão para Irôco o prometido.
Iroko Ajuda A Feiticeira A Vingar O Filho Morto
Irôco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. Uma delas era Ajé, a
feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher normal. Irôco e suas irmãs
vieram juntos do Orun para habitar no Aiê. Irôco foi morar numa frondosa árvore
e suas irmãs em casas comuns. Ogboí teve dez filhos e Ajé teve só um, um
passarinho.
Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de
Ajé. Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã. Mais tarde, quando Ajé
teve também que viajar, deixou o filho pássaro com Ogboí. Foi então que os
filhos de Ogbói pediram à mãe que queriam comer um passarinho. Ela lhes
ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram. Gritavam de fome,
queriam comer, mas tinha que ser um pássaro. A mãe foi então foi a floresta
caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer. Na ausência da mãe, os
filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. Quando Ajé voltou
e se deu por conta da tragédia, partiu desesperada a procura de Irôco. Irôco a
recebeu em sua árvore, onde mora até hoje. E de lá, Irôco vingou Ajé, lançando
golpes sobre os filhos de Ogboí. Desesperada com a perda de metade de seus
filhos e para evitar a morte dos demais, Ogoí ofereceu sacrifícios para o irmão
Irôco. Deu-lhe um cabrito e outras coisas e mais um cabrito para Exú. Irôco
aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos.
Irôco Engole A Devota Que Não Cumpre A Interdição Sexual
Era uma vez uma mulher sem filhos, que ansiava desesperadamente por um herdeiro.
Ela foi consultar o babalaô e o babalaô lhe disse como proceder: Ela deveria ir
à árvore de Irôco e a oferecer um sacrifício, comidas e bebidas. Com panos
vistosos ela fez laços e enfeitou o pé de Irôco. Aos seus pés depositou o seu
ebó. Fez tudo como mandara o adivinho, mas de importante preceito ela se
esqueceu. Ela deu tudo a Irôco, ou, quase tudo. Ela esqueceu que o babalaô
mandara que nós três dias antes do ebó ela deixasse de ter relações sexuais. Só
então, assim, com o corpo limpo, deveria entregar o ebó aos pés da árvore
sagrada.
Irôco irritou-se com a ofensa, abriu uma grande boca em seu grosso tronco e
engoliu quase totalmente a mulher, deixando de fora só os ombros e a cabeça. A
mulher gritava feito louca por ajuda e toda a aldeia correu para o velho Irôco.
Todos assistiam o desespero da mulher. O babalaô foi também até a árvore e fez
seu jogo, e o jogo revelou sua ofensa, sua oferta com o corpo sujo. Mas a
mulher estava arrependida e a grande árvore deixou que ela fosse libertada.
Toda a aldeia ali reunida regozijou-se pela mulher. Todos cantaram e dançaram
de alegria. Todos deram vivas a Irôco. Tempos depois a mulher percebeu que
estava grávida e preparou novos laços de vistosos panos e enfeitou agradecida a
planta imensa. Tudo ofereceu-lhe do melhor, antes resguardando-se para ter o
corpo limpo. Quando nasceu o filho tão esperado, ela foi ao babalaô e ele leu o
futuro da criança: deveria ser iniciada para Irôco. Assim foi feito e Irôco
teve muitos devotos. E seu tronco está sempre enfeitado e aos seus pés não lhe
faltam oferendas.
HISTÓRIA
As grandes metrópoles do período colonial: Portugal, Espanha, Inglaterra,
França, etc.; subjugaram nações africanas, fazendo dos negros mercadorias,
objetos sem direitos ou alma.
Os negros africanos foram levados a diversas colônias espalhadas principalmente
nas Américas e em plantações no Sul de Portugal e em serviços de casa na
Inglaterra e França.
Os traficantes coloniais utilizavam-se de diversas técnicas para poder
arrematar os negros:
Chegavam de assalto e prendiam os mais jovens e mais fortes da tribo, que
viviam principalmente no litoral Oeste, no Centro-oeste, Nordeste e Sul da
África.
Trocavam por mercadoria: espelhos, facas, bebidas, etc. Os cativos de uma tribo
que fora vencida em guerras tribais ou corrompiam os chefes da tribo
financiando as guerras e fazendo dos vencidos escravos.
No Brasil os escravos negros chegavam por Recife e Salvador, nos séculos XVI e
XVII, e no Rio de Janeiro, no século XVIII.
Os primeiros grupos que vieram para essas regiões foram os bantos; cabidos;
sudaneses; iorubás; geges; hauçá; minas e malês.
A valorização do tráfico negreiro, fonte da riqueza colonial, custou muito
caro; em quatro séculos, do XV ao XIX, a África perdeu, entre escravizados e
mortos 65 a 75 milhões de pessoas, e estas constituiam uma parte selecionada da
população.
Arrancados de sua terra de origem, uma vida amarga e penosa esperava esses
homens e mulheres na colônia: trabalho de sol a sol nas grandes fazendas de
açúcar. Tanto esforço, que um africano aqui chegado durava, em média, de sete a
dez anos! Em troca de seu trabalho os negros recebiam três "pês":
Pau, Pano e Pão. E reagiam a tantos tormentos suicidando-se, evitando a
reprodução, assassinando feitores, capitães-do-mato e proprietários. Em seus
cultos, os escravos resistiam, simbolicamente, à dominação. A
"macumba" era, e ainda é, um ritual de liberdade, protesto, reação à
opressão. As rezas, batucadas, danças e cantos eram maneiras de aliviar a
asfixia da escravidão. A resistência também acontecia na fuga das fazendas e na
formação dos quilombos, onde os negros tentaram reconstituir sua vida africana.
Um dos maiores quilombos foi o Quilombo dos Palmares onde reinou Ganga Zumba ao
lado de seu guerreiro Zumbi (protegido de Ogum).
Os negros que se adaptavam mais facilmente à nova situação recebiam tarefas
mais especializadas, reprodutores, caldeireiro, carpinteiros, tocheiros,
trabalhador na casa grande (escravos domésticos) e outros, ganharam alforria
pelos seus senhores ou pelas leis do Sexagenário, do Ventre livre e, enfim,
pela Lei Áurea.
A Legião de espíritos chamados "Pretos-Velhos" foi formada no Brasil,
devido a esse torpe comércio do tráfico de escravos arrebanhados da África.
Estes negros aos poucos conseguiram envelhecer e constituir mesmo de maneira
precária uma união representativa da língua, culto aos Orixás e aos
antepassados e tornaram-se um elemento de referência para os mais novos,
refletindo os velhos costumes da Mãe África. Eles conseguiram preservar e até
modificar, no sincretismo, sua cultura e sua religião.
Idosos mesmo, poucos vieram, já que os escravagistas preferiam os jovens e
fortes, tanto para resistirem ao trabalho braçal como às exemplificações com o
látego. Porém, foi esta minoria o compêndio no qual os incipientes puderam ler
e aprender a ciência e sabedoria milenar de seus ancestrais, tais como o
conhecimento e emprego de ervas, plantas, raízes, enfim, tudo aquilo que nos dá
graciosamente a mãe natureza.
Mesmo contando com a religião, suas cerimônias, cânticos, esses moços
logicamente não poderiam resistir à erosão que o grande mestre, o tempo, produz
sobre o invólucro carnal, como todos os mortais. Mas a mente não envelhece,
apenas amadurece.
Não podendo mais trabalhar duro de sol a sol, constituíram-se a nata da
sociedade negra subjugada. Contudo, o peso dos anos é implacavelmente
destruidor, como sempre acontece.
O ato final da peça que encarnamos no vale de lágrimas que é o planeta Terra é
a morte. Mas eles voltaram. A sua missão não estava ainda cumprida. Precisavam
evoluir gradualmente no plano espiritual. Muitos ainda, usando seu linguajar
característico, praticando os sagrados rituais do culto, utilizados desde
tempos imemoriais, manifestaram-se em indivíduos previamente selecionados de
acordo com a sua ascendência (linhagem), costumes, tradições e cultura. Teriam
que possuir a essência intrínseca da civilização que se aprimorou após
incontáveis anos de vivência.
FORMAÇÃO DA FALANGE DOS PRETOS-VELHOS NA UMBANDA
Depois de mortos, passaram a surgir em lugares adequados, principalmente para
se manifestarem. Ao se incorporarem, trazem os Pretos-Velhos os sinais característicos
das tribos a que pertenciam.
Os Pretos-velhos são nossos Guias ou Protetores, mas no Candomblé, são
considerados Eguns (almas desencarnadas), e decorrente disso, só têm fio de
conta (Guia) na Umbanda. Usam branco ou preto e branco. Essas cores são usadas
porque, sendo os Pretos-Velhos almas de escravos, lembram que eles só podiam
andar de branco ou xadrez preto e branco, em sua maioria. Temos também a Guia
de lágrima de Nossa Senhora, semente cinza com uma palha dentro. Essa Guia vem
dos tempos dos cativeiros, porque era o material mais fácil de se encontrar na
época dos escravos, cuja planta era encontrada em quase todos os lugares.
O dia em que a Umbanda homenageia os Pretos-Velhos é 13 de maio, que é a data
em que foi assinada a Lei Áurea (libertação dos escravos). O NOMES DOS
PRETOS-VELHOS
Há muita controvérsia sobre o fato de o nome do Preto-Velho ser uma miscelânea
de palavras portuguesas e africanas. Voltemos ao passado, na época que
cognominamos "A Idade das Trevas" no Brasil, dos feitores e senhores,
senzalas e quilombos, sendo os senhores feudais brasileiros católicos ferrenhos
(devido à influência portuguesa) não permitiam a seus escravos a liberdade de
culto. Eram obrigados a aprender e praticar os dogmas religiosos dos amos. Porém
eles seguiram a velha norma: contra a força não há resistência, só a
inteligência vence. Faziam seus rituais às ocultas, deixando que os déspotas em
miniatura acreditassem estar eles doutrinados para o catolicismo, cujas
cerimônias assistiam forçados.
As crianças escravas recém-nascidas, na época, eram batizadas duas vezes. A
primeira, ocultamente, na nação a que pertenciam seus pais, recebendo o nome de
acordo com a seita. A segunda vez, na pia batismal católica, sendo esta
obrigatória e nela a criança recebia o primeiro nome dado pelo seu senhor,
sendo o sobrenome composto de cognome ganho pela Fazenda onde nascera (Ex.:
Antônio da Coroa Grande), ou então da região africana de onde vieram (Ex.:
Joaquim D'Angola).
O termo "Velho", "Vovô" e "Vovó" é para sinalizar
sua experiência, pois quando pensamos em alguém mais velho, como um vovô ou uma
vovó subentendemos que essa pessoa já tenha vivido mais tempo, adquirindo assim
sabedoria, paciência, compreensão. É baseado nesses fatores que as pessoas mais
velhas aconselham.
No mundo espiritual é bastante semelhante, a grande característica dessa linha
é o conselho. É devido a esse fator que carinhosamente dizemos que são os
"Psicólogos da Umbanda".
Eis aqui, como exemplo, o nome de alguns Pretos-Velhos:
Pai Cambinda (ou Cambina), Pai Roberto, Pai Cipriano, Pai João ,Pai Congo, Pai
José D'Angola, Pai Benguela, Pai Jerônimo, Pai Francisco, Pai Guiné, Pai
Joaquim, Pai Antônio, Pai Serafim, Pai Firmino D'Angola, Pai Serapião, Pai
Fabrício das Almas, Pai Benedito, Pai Julião, Pai Jobim, Pai Jobá, Pai Jacó,
Pai Caetano, Pai Tomaz, Pai Tomé, Pai Malaquias, Pai Dindó, Vovó Maria Conga,
Vovó Manuela, Vovó Chica, Vovó Cambinda (ou Cambina), Vovó Ana, Vovó Maria
Redonda, Vovó Catarina, Vovó Luiza, Vovó Rita, Vovó Gabriela, Vovó Quitéria,
Vovó Mariana, Vovó Maria da Serra, Vovó Maria de Minas, Vovó Rosa da Bahia,
Vovó Maria do Rosário, Vovó Benedita.
Obs: Normalmente os Pretos-Velhos tratados por Vovô ou Vovó são mais “velhos”
do que aqueles tratados por Pai, Mãe, Tio ou Tia).
ATRIBUIÇÕES
Eles representam a humildade, força de vontade, a resignação, a sabedoria, o
amor e a caridade. São um ponto de referência para todos aqueles que
necessitam: curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz. Não têm raiva
ou ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no
passado.
Com seus cachimbos, fala pausada, tranquilidade nos gestos, eles escutam e
ajudam àqueles que necessitam, independentes de sua cor, idade, sexo e de
religião. São extremamente pacientes com os seus filhos e, como poucos, sabem
incutir-lhes os conceitos de carma e ensinar-lhes resignação
Não se pode dizer que em sua totalidade esses espíritos são diretamente os
mesmos Pretos-Velhos da escravidão. Pois, no processo cíclico da reencarnação passaram
por muitas vidas anteriores foram: negros escravos, filósofos, médicos, ricos,
pobres, iluminados, e outros. Mas, para ajudar aqueles que necessitam
escolheram ou foram escolhidos para voltar à terra em forma incorporada de
Preto-Velho. Outros, nem negros foram, mas escolheram como missão voltar nessa
pseudo-forma.
Outros foram até mesmo Exus, que evoluíram e tomaram as formas de um
Pretos-Velhos.
Este comentário pode deixar algumas pessoas, do culto e fora dele, meio
confusas: "então o Preto-Velho não é um Preto-Velho, ou seja, ou o que
acontece???".
Esses espíritos assumem esta forma com o objetivo de manter uma perfeita
comunicação com aqueles que os vão procurar em busca de ajuda.
O espírito que evoluiu tem a capacidade de assumir qualquer forma, pois ele é
energia viva e condizente de luz, a forma é apenas uma conseqüência do que eles
tenham que fazer na terra. Esses espíritos podem se apresentar, por exemplo, em
lugares como um médico e em outros como um Preto-Velho ou até mesmo um caboclo
ou exu. Tudo isso vai de acordo com o seu trabalho, sua missão. Não é uma forma
de enganar ou má fé com relação àqueles que acreditam, muito pelo contrário,
quando se conversa sinceramente, eles mesmos nos dizem quem são, caso tenham
autorização.
Por isso, se você for falar com um Preto-Velho, tenha humildade e saiba
escutar, não queira milagres ou que ele resolva seus problemas, como em um
passe de mágica, entenda que qualquer solução tem o princípio dentro de você
mesmo, tenha fé, acredite em você, tenha amor a Deus e a você mesmo.
Para muitos os Pretos-Velhos são conselheiros mostrando a vida e seus caminhos;
para outros, são psicólogos, amigos, confidentes, mentores espirituais; para
outros, são os exorcistas que lutam com suas mirongas, banhos de ervas, pontos
de fogo, pontos riscados e outros, apoiados pelos exus desfazendo trabalhos.
Também combatem as forças negativas (o mal), espíritos obsessores e cimbas.
A MENSAGEM DOS PRETOS-VELHOS
A figura do Preto-Velho é um símbolo magnífico. Ela representa o espírito de
humildade, de serenidade e de paciência que devemos ter sempre em mente para
que possamos evoluir espiritualmente.
Certa vez, em um centro do interior de Minas, uma senhora consultando-se com um
Preto-Velho comentou que ficava muito triste ao ver no terreiro pessoas
unicamente interessadas em resolver seus problemas particulares de cunho
material, usando os trabalhos de Umbanda sem pensar no próximo e, só retornavam
ao terreiro, quando estavam com outros problemas. O Preto-Velho deu uma
baforada com seu cachimbo e respondeu tranquilamente: "Sabe filha, essas
pessoas preocupadas consigo próprias, são escravas do egoísmo. Procuramos
ajudá-las, resolvendo seus problemas; mas, aquelas que podem ser aproveitadas,
depois de algum tempo, sem que percebam, estarão vestidas de roupa branca,
descalças, fazendo parte do terreiro. Muitas pessoas vem aqui buscar lã e saem
tosqueadas; acabam nos ajudando nos trabalhos de caridade”. Essa é a sabedoria
dos Pretos-Velhos...
Os Pretos-Velhos levam a força de Deus (Zambi) a todos que queiram aprender e
encontrar uma fé. Sem ver a quem, sem julgar, ou colocando pecados. Mostrando
que o amor a Deus, o respeito ao próximo e a si mesmo, o amor próprio, a força
de vontade e encarar o ciclo da reencarnação podem aliviar os sofrimentos do carma
e elevar o espírito para a luz divina. Fazendo com que as pessoas entendam e
encarem seus problemas e procurem suas soluções da melhor maneira possível
dentro da lei do dharma e da causa e efeito.
Eles aliviam o fardo espiritual de cada pessoa fazendo com que ela se fortaleça
espiritualmente. Se a pessoa se fortalece e cresce consegue carregar mais
comodamente o peso de seus sofrimentos. Ao passo que se ela se entrega ao
sofrimento e ao desespero enfraquece e sucumbe por terra pelo peso que carrega.
Então cada um pode fazer com que seu sofrimento diminua ou aumente de acordo
como encare seu destino e os acontecimentos de sua vida:
"Cada um colherá aquilo que plantou. Se tu plantaste vento colherás
tempestade. Mas, se tu entenderes que com luta o sofrimento pode tornar-se
alegria vereis que deveis tomar consciência do que foste teu passado aprendendo
com teus erros e visando o crescimento e a felicidade do futuro. Não sejais
egoísta, aquilo que te fores ensinado passai aos outros e aquilo que recebeste
de graça, de graça tu darás. Porque só no amor, na caridade e na fé é que tu
podeis encontrar o teu caminho interior, a luz e DEUS" (Pai Cipriano).
CARACTERÍSTICAS:
Linha e Irradiação
Todos os Pretos-Velhos vem na linha de Obaluaiê, mas cada um vem na irradiação
de um Orixá diferente.
Fios de Contas (Guias)
Muitos dos Pretos-Velhos Gostam de Guias com Contas de Rosário de Nossa
Senhora, alguns misturam favas e colocam Cruzes ou Figas feitas de Guiné ou
Arruda.
Roupas
Preta e branca; carijó (xadrez preto e branco). As Pretas-Velhas às vezes usam
lenços na cabeça e/ou batas; e os Pretos-Velhos às vezes usam chapéu de palha.
Bebida
Café preto, vinho tinto, vinho moscatel, cachaça com mel (às vezes misturam
ervas, sal, alho e outros elementos na bebida).
Dia da semana: Segunda-feira
Chacra atuante: básico ou sacro
Planeta regente: Saturno
Cor representativa: preto e branco;
Saudação: Cacurucaia (Deve sempre ser respondida com “Adorei as Almas”)
Fumo: cachimbos ou cigarros de palha.
Obs: Os Pretos-Velhos às vezes usam bengalas ou cajados.
COZINHA RITUALÍSTICA
Tutu de feijão preto
Mingau das almas
É um mingau feito de maizena e leite de vaca (às vezes com leite de coco), sem
açúcar ou sal, colocado em tigela de louça branca. É comum colocar-se uma cruz
feita de fitas pretas sobre esse mingau, antes de entregá-lo na natureza.
Bolinhos de tapioca
Os bolinhos de tapioca são feitos colocando-se a tapioca de molho em água
quente (ou leite de coco, se preferir), de modo a inchar. Quando inchado,
enrole os bolinhos em forma de croquete e passe-os em farinha de mesa crua.
Asse na grelha.
Colocar os bolinhos em prato de louça branca podendo acrescentar arruda,
rapadura, fumo de rolo, etc.
Obs: Nas sessões festivas de Pretos-Velhos, é usual servir a tradicional
feijoada completa, feita de feijão preto, miúdos e carne salgada de boi,
acompanhada de couve à mineira e farofa.
FORMAS INCORPORATIVAS E ESPECIALIDADE DOS PRETOS-VELHOS:
Sua forma de incorporação é compacta, sem dançar ou pular muito. A vibração
começa com um "peso" nas costas e uma inclinação de tronco para
frente, e os pés fixados no chão. Se locomovem apenas quando incorporam para as
saudações necessárias (atabaque, gongá, etc.) e depois sentam e praticam sua
caridade (Podemos encontrar alguns que se mantém em pé). É possível ver
Pretos-Velhos dançando, mais esse dançando é sutil, e apenas com movimentos dos
ombros quando sentados.
Essa simplicidade se expande, tanto na sua maneira de ser e de falar. Usam
vocabulário simples, sem palavras rebuscadas.
A linha é um todo, com suas características gerais, ditas acima, mas diferenças
ocorrem porque os Pretos-Velhos são trabalhadores de orixás e trazem para sua
forma de trabalho a essência da irradiação do Orixá para quem eles trabalham.
Essas diferenças são evidenciadas na incorporação e também na maneira de
trabalhar e especialidade deles. Para exemplificar, separaremos abaixo por
Orixás:
Pretos-Velhos De Ogum
São mais rápidos na sua forma incorporativa e sem muita paciência com o médium
e as vezes com outras pessoas que estão cambonando e até consulentes.
São diretos na sua maneira de falar, não enfeitam muito suas mensagens, as
vezes parece que estão brigando, para dar mesmo o efeito de "choque",
mais são no fundo extremamente bondosos tanto para com seu médium e para as
outras pessoas.
São especialistas em consultas encorajadoras, ou seja, encorajando e dando
segurança para aqueles indecisos e "medrosos". É fácil pensar nessa
característica pois Ogum é um Orixá considerado corajoso.
Pretos-Velhos De Oxum
São mais lentos na forma de incorporar e até falar. Passam para o médium uma
serenidade inconfundível.
Não são tão diretos para falar, enfeitam o máximo a conversa para que uma
verdade dolorosa possa ser escutada de forma mais amena, pois a finalidade não
é "chocar" e sim, fazer com que a pessoa reflita sobre o assunto que
está sendo falado.
São especialistas em reflexão, nunca se sai de uma consulta de um Preto-Velho
de Oxum sem um minuto que seja de pensamento interior. Às vezes é comum sair
até mais confuso do que quando entrou, mas é necessário para a evolução daquela
pessoa.
Pretos-Velhos De Xangô
Sua incorporação é rápida como as de Ogum.
Assim como os caboclos de Xangô, trabalham para causas de prosperidade sólida,
bens como casa própria, processo na justiça e realizações profissionais.
Passam seriedade em cada palavra dita. Cobram bastante de seus médiuns e
consulentes.
Pretos-Velhos De Iansã
São rápidos na sua forma de incorporar e falar. Assim como os de Ogum, não
possuem também muita paciência para com as pessoas.
Essa rapidez é facilmente entendida, pela força da natureza que os rege, e é
essa mesma força lhes permite uma grande variedade de assuntos com os quais ele
trata, devido a diversidade que existe dentro desse único Orixá.
Geralmente suas consultas são de impacto, trazendo mudança rápida de pensamento
para a pessoa. São especialistas também em ensinar diretrizes para alcançar
objetivos, seja pessoal, profissional ou até espiritual.
Entretanto, é bom lembrar que sua maior função é o descarrego. É limpar o
ambiente, o consulente e demais médiuns do terreiro, de eguns ou espíritos de
parentes e amigos que já se foram, e que ainda não se conformaram com a partida
permanecendo muito próximos dessas pessoas.
Pretos-Velhos De Oxossi
São os mais brincalhões, suas incorporações são alegres e um pouco rápidas.
Esses Pretos-Velhos geralmente falam com várias pessoas ao mesmo tempo.
Possuem uma especialidade: A de receitar remédios naturais, para o corpo e a
alma, assim como emplastros, banhos e compressas, defumadores, chás, etc... São
verdadeiros químicos em seus tocos. - Afinal não podiam ser diferentes, pois
são alunos do maior "químico" - Oxossi.
Pretos-Velhos De Nanã
São raros, sua maneira de incorporação é de forma mais envelhecida ainda. Lenta
e muito pesada. Enfatizando ainda mais a idade avançada.
Falam rígido, com seriedade profunda. Não brincam nas suas consultas e prezam
sempre o respeito, tanto do médium quanto do consulente, e pessoas a volta
como: cambonos e pessoas do terreiro em geral e principalmente do pai ou da mãe
de santo.
Cobram muito do seu médium, não admitem roupas curtas ou transparentes. Seu
julgamento é severo. Não admite injustiça.
Costumam se afastar dos médiuns que consideram de "moral fraca". Mais
prezam demais a gratidão, de uma forma geral. Podem optar por ficar numa casa,
se seu médium quiser sair, se julgar que a casa é boa, digna e honrada.
É difícil a relação com esses guias, principalmente quanto há discordância, ou
seja, não são muito abertos a negociação no momento da consulta.
São especialistas em conselhos que formem moral, e entendimento do nosso carma,
pois isso sem dúvida é a sua função.
Atuam também como os de Inhasã e Obaluaiê, conduzindo Eguns.
Pretos-Velhos De Obaluaiê
São simples em sua forma de incorporar e falar. Exigem muito de seus médiuns,
tanto na postura quanto na moral.
Defendem quem é certo ou quem está certo, independente de quem seja, mesmo que
para isso ganhem a antipatia dos outros.
Agarram-se a seus "filhos" com total dedicação e carinho, não
deixando no entanto de cobrar e corrigir também. Pois entendem que a correção é
uma forma de amar.
Devido à elevação e a antiguidade do Orixá para o qual eles trabalham, acabam
transformando suas consultas em conselhos totalmente diferenciados dos demais
Pretos-Velhos. Ou seja, se adaptam a qualquer assunto e falam deles exatamente
com a precisão do momento.
Como trabalha para Obaluaiê, e este é o "dono das almas", esses
Pretos-Velhos são geralmente chefes de linha e assim explica-se a facilidade
para trabalhar para vários assuntos.
Sua "visão" é de longo alcance para diversos assuntos, tornando-os
capazes de traçar projetos distantes e longos para seus consulentes. Tanto
pessoal como profissional e até espiritual.
Assim exigem também fiel cumprimento de suas normas, para que seus projetos não
saiam errado, para tanto, os filhos que os seguem, devem fazer passo a passo
tudo que lhes for pedido, apenas confiando nesses Pretos-Velhos.
Gostam de contar histórias para enriquecer de conhecimento o médium e as
pessoas a volta.
Pretos-Velhos De Iemanjá
São belos em suas incorporações, contudo mantendo uma enorme simplicidade. Sua
fala é doce e meiga.
Sua especialidade maior é sem dúvida os conselhos sobre laços espirituais e
familiares.
Gostam também de trabalhar para fertilidade de um modo geral, e especialmente
para as mulheres que desejam engravidar.
Utilizando o movimento das ondas do mar, são excelentes para descarrego e
passes.
Pretos-Velhos De Oxalá
São bastante lentos na forma de incorporar, tornam-se belos principalmente pela
simplicidade contida em seus gestos.
Raramente dão consulta, sua maior especialidade é dirigir e instruir os demais
Pretos-Velhos.
Cobram bastante de seus médiuns, principalmente no que diz respeito a prática
de caridade, bom comportamento moral dentro e fora do terreiro, ausência de
vícios, humildade; enfim o cultivo das virtudes mais elevadas.
OS
CABOCLOS
São os nossos amados Caboclos os legítimos representantes da Umbanda, eles se
dividem em diversas tribos, de diversos lugares formando aldeias, eles vem de
todos os lugares para nos trazer paz e saúde, pois através de seus passes, de
suas ervas santas conseguem curar diversos males materiais e espirituais. A
morada dos caboclos é a mata, onde recebem suas oferendas, sua cor é o verde
transparente para as Caboclas e verde leitoso para os Caboclos, gostam de todas
as frutas, de milho, do vinho tinto (para eles representa o sangue de Cristo),
gostam de tomar sumo de ervas e apreciam o coco com vinho e mel.
Existem falanges de caçadores, de guerreiros, de feiticeiros, de justiceiros;
são eles trabalhadores de Umbanda e chefes de terreiros. As vezes os caboclos
são confundidos com o Orixá Oxossi, mas eles são simplesmente trabalhadores da
umbanda que pertencem a linha de Oxossi, embora sua irradiação possa ser de
outro Orixá.
A sessão de caboclos é muito alegre, lembra as festas da tribo. Eles cantam em
volta do axé da casa como se estivessem em volta da fogueira sagrada, como
faziam em suas aldeias. Tudo para os caboclos é motivo de festa como casamento,
batizado, dia de caçar, reconhecimento de mais um guerreiro, a volta de uma
caçada.
Assim como os Preto-velhos, possuem grande elevação espiritual, e trabalham
"incorporados" a seus médiuns na Umbanda, dando passes e consultas,
em busca de sua elevação espiritual.
Estão sempre em busca de uma missão, de vencer mais uma demanda, de ajudar mais
um irmão de fé. São de pouco falar, mais de muito agir, pensam muito antes de
tomar uma decisão, por esse motivo eles são conselheiros e responsáveis.
Os Caboclos, de acordo, com planos pré-estabelecidos na Espiritualidade Maior,
chegam até nós com alta e sublime missão de desempenhar tarefa da mais alta
importância, por serem espíritos muito adiantados, esclarecidos e caridosos.
Espíritos que foram médicos na Terra, cientistas, sábios, professores, enfim,
pertenceram a diversas classes sociais, os Caboclos vêm auxiliar na caridade do
dia a dia aos nossos irmãos enfermos, quer espiritualmente, quer materialmente.
Por essas razões, na maior parte dos casos, os Caboclos são escolhidos por
Oxalá para serem os Guias-Chefes dos médiuns, ou melhor, representar o Orixá de
cabeça do médium Umbandista (em alguns casos os Pretos-Velhos assumem esse
papel).
Na Umbanda não existe demanda de um Caboclo para Caboclo, a demanda poderá
existir de um Caboclo, entidade de luz, para com um "kiumba" ou até
mesmo contra um Exu, de pouca luz espiritual.
A denominação "caboclo", embora comumente designe o mestiço de branco
com índio, tem, na Umbanda, significado um pouco diferente. Caboclos são as
almas de todos os índios antes e depois do descobrimento e da miscigenação.
Constituem o braço forte da Umbanda, muito utilizados nas sessões de
desenvolvimento mediúnico, curas (através de ervas e simpatias), de obsessões,
solução de problemas psíquicos e materiais, demandas materiais e espirituais e
uma série de outros serviços e atividades executados nas tendas.
Os caboclos não trabalham somente nos terreiros como alguns pensam. Eles
prestam serviços também ao Kardec ismo, nas chamadas sessões de "mesa
branca". No panorama espiritual rente à Terra predominam espíritos
ociosos, atrasados, desordeiros, semelhantes aos nossos marginais encarnados.
Estes ainda respeitam a força. Os índios, que são fortíssimos, mas de almas
simples, generosas e serviçais, são utilizados pelos espíritos de luz para
resguardarem a sua tarefa da agressão e da bagunça. São também utilizados pelos
guias, nos casos de de obsessão pois, pegam o obsessor contumaz, impertinente e
teimoso, "amarrando-o" em sua tremenda força magnética e levando-o
para outra região.
Os caboclos são espíritos de muita luz que assumem a forma de
"índios", prestando uma homenagem à esse povo que foi massacrado
pelos colonizadores. São exímios caçadores e tem profundo conhecimento das
ervas e seus princípios ativos, e muitas vezes, suas receitas produzem curas
inesperadas.
Como foram primitivos conhecem bem tudo que vem da terra, assim caboclos são os
melhores guias para ensinar a importância das ervas e dos alimentos vindos da
terra, além de sua utilização.
Usam em seus trabalhos ervas que são passadas para banhos de limpeza e chás
para a parte física, ajudam na vida material com trabalhos de magia positiva,
que limpam a nossa aura e proporcionam uma energia e força que irá nos auxiliar
para que consigamos o objetivo que desejamos, não existem trabalhos de magia
que concedam empregos e favores, isso não é verdade. O trabalho que eles
desenvolvem é o de encorajar o nosso espírito e prepará-lo para que nós
consigamos o nosso objetivo.
A magia praticada pelos espíritos de caboclos e pretos velhos é sempre
positiva, não existe na Umbanda trabalho de magia negativa, ao contrário, a
Umbanda trabalha para desfazer a magia negativa
Os caboclos de Umbanda são entidades simples e através da sua simplicidade
passam credibilidade e confiança a todos que os procuram, nos seus trabalhos de
magia costumam usar pemba, velas, essências, flores, ervas, frutas e charutos.
Quase sempre os caboclos vêm na irradiação do Orixá masculino da coroa do
médium e as caboclas vêm na irradiação do Orixá feminino da coroa do médium;
mas, eles(as) podem vir também na Irradiação do seu próprio Orixá de quando
encarnados e até mesmo na irradiação do povo do Oriente.
ONDE VIVEM OS CABOCLOS ?
Muitos já ouviram falar que os Caboclos quando se despedem do terreiro, onde
atuam incorporados em seus médiuns, dizem que vão para a cidade de Juremá.
Outros falam subir para o Humaitá, e assim por diante.
Sabemos, no entanto, que os Caboclos não voltam para as florestas como
ordinariamente voltam os que lá habitam.
No espaço, onde se situam as esferas vibratórias, vivem os Caboclos agrupados,
segundo a faixa vibracional de atuação, junto a psico-esfera da Terra. São
verdadeiras cidades onde se cumpre o mandato que Oxalá assim determinou,
colaborando com a humanidade.
É para as cidades espirituais que os Caboclos responsáveis pelos diversos
terreiros levam os médiuns, dirigentes e demais trabalhadores, para aprenderem
um pouco mais sobre a Umbanda.
Estas moradas possuem grandes núcleos de trabalhos diversos, onde o Caboclo faz
sua evolução, contrariando o que muitos encarnados pensam (que Caboclo tudo
pode, tudo sabe e tudo faz).
Os Orixás, que são emanações do pensamento do Deus-Pai, que está além da
personalidade humana que lhe queiram dar as culturas terrenas, fazem descer a
mais pura energia-matéria ser trabalhada pelos Caboclos no espaço-tempo das
esferas que compreendem a Terra, morada provisória de alguns espíritos em
evolução.
Lá, na morada de luz dos Caboclos, existem outros espíritos aprendendo o manejo
das energias, das forças que estabelecerão um padrão vibratório de equilíbrio
para os consulentes que vêm às tendas de caridade em busca de um conforto
espiritual.
Estas "aldeias" se locomovem entre as esferas, ora estão em zonas
próximas às trevas, socorrendo espíritos dementados, ora estão sobre algumas
cidades do plano visível, etéreas, ou sobre o que resta de florestas
preservadas pelo Homem. De lá extraem, com a ajuda dos Elementais, os remédios
para a cura dos males do corpo.
Quando Incorporados, fumam charutos ou cigarrilhas e, em algumas casas,
costumam usar durante as giras, penachos, arcos e flechas, lanças, etc. Falam
de forma rústica lembrando sua forma primitiva de ser, dessa forma mostram
através de suas danças muita beleza, própria dessa linha.
Seus "brados", que fazem parte de uma linguagem comum entre eles,
representam quase uma "senha" entre eles. Cumprimentos e despedidas
são feitas usando esses sons.
Costumamos dizer que as diferenças entre eles estão nos lugares que eles dizem
pertencer. Dando como origem ou habitat natural, assim podemos ter:
Caboclos Da Mata - Esses viveram mais próximos da civilização ou tiveram
contato com elas.
Caboclos Da Mata Virgem - Esses viveram mais interiorizados nas matas, sem
nenhum contato com outros povos.
Assim vários caboclos se acoplam dentro dessa divisão.
Torna-se de grande importância conhecermos esses detalhes para compreendermos
porque alguns falam mais explicados que outros. Mais ainda existe as
particularidades de cada um, que permitem diferenciarmos um dos outros.
A primeira é a "especialidade" de cada um, são elas: curandeiros,
rezadeiros, guerreiros, os que cultivavam a terra (agricultores), parteiras,
entre outros.
A segunda é diferença criada pela irradiação que os rege. É o Orixá para quem
eles trabalham.
Quando falamos na personalidade de um caboclo ou de qualquer outro guia,
estamos nos referindo a sua forma de trabalho.
A "personalidade" de um caboclo se dá pela junção de sua
"origem", "especialidade" e irradiação que o rege.
E é nessa "personalidade" que centramos nossos estudos. Assim como os
Pretos-velhos, eles podem dar passe, consulta ou participarem de descarrego,
contudo sua prática da caridade se dá principalmente com a manipulação (preparo
de remédios feitos com ervas, emplastos, compressas e banhos em geral).
Esses guias por conhecerem bem a terra, acreditam muito no valor terapêutico
das ervas e de tudo que vem da terra, por isso as usam mais que qualquer outro
guia.
Desenvolveram com isso um conhecimento químico muito grande para fazer remédios
naturais.
FORMAS INCORPORATIVAS E
ESPECIALIDADE
DOS CABOCLOS:
Caboclos De Oxum
Geralmente são suaves e costumam rodar, a incorporação acontece principalmente
através do chacra cardíaco. Trabalham mais para ajuda de doenças psíquicas,
como: depressão, desânimo entre outras. Dão bastante passe tanto de dispersão
quanto de energização. Aconselham muito, tendem a dar consultas que façam
pensar; Seus passes quase sempre são de alívio emocional.
Caboclos De Ogum
Sua incorporação é mais rápida e mais compactada ao chão, não rodam. Consultas
diretas, geralmente gostam de trabalhos de ajuda profissional. Seus passes são
na maioria das vezes para doar força física, para dar ânimo.
Caboclos De Iemanjá
Incorporam de forma suave, porém mais rápidos do que os de Oxum, rodam muito,
chegando a deixar o médium tonto. Trabalham geralmente para desmanchar
trabalhos, com passes, limpeza espiritual, conduzindo essa energia para o mar.
Caboclos De Xangô
São guias de incorporações rápidas e contidas, geralmente arriando o médium no
chão. Trabalham para: emprego; causas na justiça; imóvel e realização
profissional. Dão também muito passe de dispersão. São diretos para falar.
Caboclos De Nanã
Assim como os Pretos-velhos são mais raros, mas geralmente trabalham
aconselhando, mostrando o karma e como ter resignação. Dão passes onde levam
eguns que estão próximos. Sua incorporação igualmente é contida, pouco dançam.
Caboclos De Iansã
São rápidos e deslocam muito o médium. São diretos para falar e rápidos também,
muitas das vezes pegam a pessoa de surpresa. Geralmente trabalham para empregos
e assuntos de prosperidade, pois Iansã tem grande ligação com Xangô. No entanto
sua maior função é o passe de dispersão (descarrego). Podem ainda trabalhar
para várias finalidades, dependendo da necessidade.
Caboclos De Oxalá
Quase não trabalham dando consultas, geralmente dão passe de energização. São
"compactados" para incorporar e se mantém localizado em um ponto do
terreiro sem deslocar-se muito. Sua principal função é dirigir e instruir os
demais Caboclos.
Caboclos De Oxossi
São os que mais se locomovem, são rápidos e dançam muito. Trabalham com banhos
e defumadores, não possuem trabalhos definidos, podem trabalhar para diversas
finalidades. Esses caboclos geralmente são chefes de linha.
Caboclos De Obaluaiê
São espíritos dos antigos "pajés" das tribos indígenas. Raramente
trabalham incorporados, e quando o fazem, escolhem médiuns que tenham Obaluaiê
como primeiro Orixá. Sua incorporação parece um Preto-velho, em algumas casas
locomovem-se apoiados em cajados. Movimentam-se pouco. Fazem trabalhos de
magia, para vários fins.
ATRIBUIÇÕES DOS CABOCLOS
São entidades, que trabalham na caridade como verdadeiros conselheiros, nos
ensinando a amar ao próximo e a natureza, são entidades que tem como missão
principal o ensinamento da espiritualidade e o encorajamento da fé, pois é
através da fé que tudo se consegue.
ASSOBIOS E BRADOS
Quem nunca viu caboclos assobiarem ou darem aqueles brados maravilhosos, que
parecem despertar alguma coisa em nós?
Muitos pensam que são apenas uma repetição dos chamados que davam nas matas,
para se comunicarem com os companheiros de tribo, quando ainda vivos. Mas não é
só isso.
Os assobios traduzem sons básicos das forcas da natureza. Estes sons precipitam
assim como o estalar dos dedos, um impulso no corpo Astral do médium para
direcioná-lo corretamente, afim de liberá-lo de certas cargas que se agregam,
tais como larvas astrais, etc.
Os assobios, assim como os brados, assemelham-se à mantras; cada entidade emite
um som de acordo com seu trabalho, para ajustar condições especificas que
facilitem a incorporação, ou para liberarem certos bloqueios nos consulentes ou
nos médiuns.
O ESTALAR DE DEDOS
Por que as entidades estalam os dedos, quando incorporadas ?
Esta é uma das coisas que vemos e geralmente não nos perguntamos, talvez por
parecer algo de importância mínima.
Nossa mãos possuem uma quantidade enorme de terminais nervosos, que se
comunicam com cada um dos chacras de nosso corpo.
O estalo dos dedos se dá sobre o Monte de Vênus (parte gordinha da mão) e
dentre as funções conhecidas pelas entidades, está a retomada de rotação e frequência
do corpo astral; e a, descarga de energias negativas.
EXÚ E POMBA GIRA
OS EXUS
Exus são espíritos que já encarnaram na terra. Na sua maioria, tiveram vida
difícil como mulheres da vida; boêmios; dançarinas de cabaré, etc.
Estes espíritos optaram por prosseguir sua evolução espiritual através da
prática da caridade, incorporando nos terreiros de Umbanda. São muito amigos,
quando tratados com respeito e carinho, são desconfiados mas gostam de ser
presenteados e sempre lembrados. Estes espíritos, assim como os Preto-velhos,
crianças e caboclos, são servidores dos Orixás.
Apesar das imagens de Exus, fazerem referência ao "Diabo" medieval
(herança do Sincretismo religioso), eles não devem ser associados a prática do
"Mal", pois como são servidores dos Orixás, todos tem funções
específicas e seguem as ordens de seus "patrões". Dentre várias, duas
das principais funções dos Exus são: a abertura dos caminhos e a proteção de
terreiros e médiuns contra espíritos perturbadores durante a gira ou
obrigações.
Desta forma estes espíritos não trabalham somente durante a "gira de
Exus" dando consultas, onde resolvem problemas de emprego, pessoal,
demanda e etc. de seus consulentes. Mas também durante as outras giras
(Caboclos, Preto-velhos, Crianças e Orixás), protegendo o terreiro e os
médiuns, para que a caridade possa ser praticada.
EXÚ É MAU? Muitos acreditam que nossos amigos Exus são demônios, maus, ruins,
perversos, que bebem sangue e se regozijam com as desgraças que podem provocar.
Mas por que este Orixá, irmão de Ogum, animado, gozador, alegre, extrovertido,
sincero e, sobretudo amigo é comparado com demônios das profundezas macabras
dos Infernos? Bem, para conhecer esta história vamos viajar para 6.000 anos
atrás, até a antiga Mesopotâmia.
A Demonologia Mesopotâmica influenciou diversos povos: Hebreus, Gregos,
Romanos, Cristãos e outros. Sobrevive até hoje nos rituais Satânicos que muitos
já devem ter escutado e visto notícias na televisão e lido nos jornais, principalmente
na Europa e EUA.
Na Mesopotâmia os males da vida que não constituíssem catástrofes naturais eram
atribuídos aos demônios (No mundo atual as pessoas continuam a fazer isso). Os
Bruxos, para combater as forças do mal tinham que conhecer o nome dos demônios
e perfaziam enormes listas, quase intermináveis. O demônio mau era conhecido
genericamente como UTUKKU. O grupo de 7 (sete) demônios maus é com frequência
encontrado em encantamentos antigos. Se dividiam em machos e fêmeas. Tinham a
forma de meio humano e meio animal: Cabeça e tronco de homem ou mulher, cintura
e pernas de cabra e garras nas mãos. Com sede de sangue, de preferência humano,
mas aceitavam de outros animais. Os demônios frequentavam os túmulos, caminhos
(encruzilhadas), lugares ermos, desertos, especialmente à noite.
Nem todos eram maus, havia os demônios bons que eram evocados para combater os
maus. Demônios benignos são representados como gênios guardiões, em número de 7
(sete), que guardam as porteiras, portas dos templos, cemitérios,
encruzilhadas, casas e palácios.
Os negros africanos em suas danças nas senzalas, nas quais os brancos achavam
que eram a forma deles saudarem os santos, incorporavam alguns Exus, com seu
brado e jeito maroto e extrovertido, assustavam os brancos que se afastavam ou
agrediam os médiuns dizendo que eles estavam possuídos por demônios.
Com o passar do tempo, os brancos tomaram conhecimento dos sacrifícios que os
negros ofereciam a Exu, o que reafirmou sua hipótese de que essa forma de
incorporação era devido a demônios.
As cores de Exu, também reafirmaram os medos e fascinação que rondavam as
pessoas mais sensíveis.
MAS ENTÃO QUEM É EXU?
Ele é o guardião dos caminhos, soldado dos Pretos-velhos e Caboclos, emissário
entre os homens e os Orixás, lutador contra o mal, sempre de frente, sem medo,
sem mandar recado.
Exu, termo originário do idioma Yorubá, da Nigéria, na África, divindade afro e
que representa o vigor, a energia que gira em espiral. No Brasil, os Senhores
conhecidos como Exus, por atuarem no mistério cuja energia prevalente é Exu, e
tanto assim, em todo o resto do mundo são os verdadeiros Guardiões das
pilastras da criação. Preservando e atuando dentro do mistério Exu.
Verdadeiros cobradores do carma e responsáveis pelos espíritos humanos caídos
representam e são o braço armado e a espada divina do Criador nas Trevas,
combatendo o mal e responsáveis pela estabilidade astral na escuridão. Senhores
do plano negativo atuam dentro de seus mistérios regendo seus domínios e os
caminhos por onde percorre a humanidade.
Em seus trabalhos Exu corta demandas, desfaz trabalhos e feitiços e magia
negra, feitos por espíritos malignos. Ajudam nos descarrego e de obsessões
retirando os espíritos obsessores e os trevosos, e os encaminhando para luz ou
para que possam cumprir suas penas em outros lugares do astral inferior.
Seu dia é a Segunda-feira, seu patrono é Santo Antônio, em cuja data
comemorativa tem também sua comemoração. Sua bebida ritual é a cachaça, mas não
é permitido o uso de cachaça para ser ingerida dentro do terreiro durante as
sessões, para este fim, cada um tem a sua preferência.
Sua roupa, quando lhe é permitido usá-la tem as cores preta e vermelha, podendo
também ser preta e branca, ou conter outras cores, dependendo da irradiação a
qual correspondem. Completa a vestimenta o uso de cartolas (ou chapéus
diversos), capas, véus, e até mesmo bengalas e punhais em alguns casos.
A roupagem fluídica dos Exus varia de acordo com o seu grau evolutivo, função,
missão e localização. Normalmente, em campos de batalhas, eles usam o uniforme
adequado. Seu aspecto tem sempre a função de amedrontar e intimidar. Suas
emanações vibratórias são pesadas, perturbadoras. Suas irradiações magnéticas
causam sensações mórbidas e de pavor.
É claro que em determinados lugares, eles se apresentarão de maneira diversa.
Em centros espíritas, podem aparecer como "guardas". Em caravanas
espirituais, como lanceiros. Já foi verificado que alguns se apresentam de
maneira fina: com ternos, chapéus, etc.
Eles têm grande capacidade de mudar a aparência, podem surgir como seres
horrendos, animais grotescos, etc.
Às vezes temido, às vezes amado, mas sempre alegre, honesto e combatente da
maldade no mundo, assim é Exú.
ALGUMAS PALAVRAS SOBRE OS EXUS:
• Tem palavra e a honram;
• Buscam evoluir;
• Por sua função cármica de Guardião, sofrem com os constantes choques energéticos
a que estão expostos;
• Afastam-se daqueles que atrasam a sua evolução;
• Estas Entidades mostram-se sempre justas, dificilmente demonstrando
emotividade, dando-nos a impressão de serem mais "Duras" que as
demais Entidades;
• São caridosas e trabalham nas suas consultas, mais com os assuntos Terra a
Terra;
• Sempre estão nos lugares mais perigosos para a Alma Humana;
• Quando não estão em missão ou em trabalhos, demonstram o imenso Amor e
Compaixão que sentem pelos encarnados e desencarnados;
“Pela Misericórdia de DEUS, que me permitiu a convivência com essas Entidades
desde a adolescência, através dos mais diferentes filhos de fé, de diferentes
terreiros, aprendi a reconhecê-los e dar-lhes o justo valor. Durante todos
estes anos, dos EXÚS, POMBO-GIRAS e MIRINS recebi apenas o Bem, o Amor, a
Alegria, a Proteção, o Desbloqueio emocional, além de muitas e muitas
verdadeiras aulas de aprendizado variado. Esclareceram-me, afastando-me
gradualmente da ILUSÃO DO PODER. Nunca me pediram nada em troca. Apenas
exigiram meu próprio esforço. Mostraram-me os perigos e ensinaram-me a
reconhecer a falsidade, a ignorância e as fraquezas humanas. Torno a repetir,
jamais pediram algo para si próprios. Só recebi e só vi neles o Bem.” –
Testemunho de um Pai-de-Santo.
EXÚS E KIUMBAS – O COMBATE
Ao contrário do que se pensa, os exus não são os diabos e espíritos malignos ou
imundos que algumas religiões pregam, tampouco são espíritos endurecidos ou
obsessores que um grande número de espíritas crêem.
Os "diabos" ou demônios são seres mitológicos, já
"desvendados" pela doutrina espírita, portanto, não existem.
Espíritos trevosos ou obsessores são espíritos que se encontram desajustados
perante a Lei. Provocam os mais variados distúrbios morais e mentais nas
pessoas, desde pequenas confusões, até as mais duras e tristes obsessões. São
espíritos que se comprazem na prática do mal, apenas por sentirem prazer ou por
vinganças, calcadas no ódio doentio.
Aguardam, enfim, que a Lei os "recupere" da melhor maneira possível (voluntária
ou involuntariamente).
São conhecidos, pelos umbandistas, como kiumbas. Vivem no baixo astral, onde as
vibrações energéticas são densas.
Este baixo astral é uma enorme "egrégora" formada pelos maus
pensamentos e atitudes dos espíritos encarnados ou desencarnados. Sentimentos
baixos, vãs paixões, ódios, rancores, raivas, vinganças, sensualidade
desenfreada, vícios de toda estirpe, alimentam esta faixa vibracional e os
kiumbas se comprazem nisso, já que se sentem mais fortalecidos.
O baixo astral, mesmo sendo um imenso caos, tem diversas organizações,
fortemente esquematizadas e hierarquizadas. Planos bem elaborados, mentes
prodigiosas, táticas de guerrilhas, precisões cirúrgicas, exércitos bem
aparelhados e treinados, compõe o quadro destas organizações.
Muitas delas agem na plena certeza de cumprirem os desígnios da Lei Divina,
onde confundem a Lei da Ação e Reação com o "olho por olho, dente por
dente". Vingam-se pensando que fazem a coisa certa.
Algumas agem no mal, mesmo sabendo que estão contra a Lei, mas enquanto a
vingança não se consumar, não haverá trégua para os seus "inimigos".
Acham que não plantam o mal, nem que a reação se voltará mais cedo ou mais
tarde.
Cada mal praticado por um espírito, o leva a cada vez mais para
"baixo". As quedas são frequentes e provocam mais e mais revoltas.
Alguns espíritos caem tanto que perdem a consciência humana, transformando-se
(ou plasmando) os seus corpos astrais (períspiritos) em verdadeiras feras,
animais, bestas e assim são usados por outros espíritos como tais. Alguns se
transformam em lobos, cães, cobras, lagartos, aves, etc.
Outros espíritos chegam ao cúmulo da queda que perdem as características
humanas, transformando os seus períspiritos em ovoides. Esta queda provoca além
da perda de energias, a perda da consciência; ficando, com isso subjugados por
outros espíritos.
Apesar de todo este quadro, pouco esperançoso, das trevas. Mesmo sabendo que no
nosso orbe o mal prevalece sobre o bem, há também o lado da Luz, da Lei, do
Bem. E este lado é ainda mais organizado que as organizações das trevas.
Existem, também, diversas organizações, com variados trabalhos e ações, mas com
um único objetivo de resgatar das trevas e do mal, os espíritos "caídos”.
Vemos colônias espirituais, hospitais no astral, postos avançados da Luz nos
Umbrais, caravanas de tarefeiros, correntes de cura, socorristas, etc., afeitos
e afinizados aos trabalhos dos centros espíritas. Vemos também, outros
trabalhadores espirituais, ligados aos cultos afros.
Especificamente, na Umbanda, vemos através das Sete Linhas, vários Orixás
hierarquizados. Existem vários níveis na hierarquia dos Orixás. Começando pelos
mais altos espíritos, que estão próximos do Criador, até os Orixás Menores ou
Planetários (aqueles que são ligados e responsáveis por cada orbe, pela sua
evolução).
Abaixo destes Orixás, estão os chefes de legiões e suas hierarquias, Estes
espíritos "chefes" usam as três roupagens básicas: Caboclos,
Pretos-Velhos e Crianças.
Outras entidades tais como: baianos, boiadeiros, marinheiros, etc., são
espíritos que compõe as sublinhas afeitas e subordinadas às sete linhas e aos
chefes de legiões.
Alguns caboclos, crianças ou pretos-velhos, às vezes, usam algumas destas
roupagens para determinados trabalhos ou missões.
Como em nosso Universo (Astral) as manifestações se dividem em duas e
manifestam-se como pares: positivo-negativo, ativo-passivo, masculino-feminino,
etc.
A Umbanda, que é paralela ativa, tem como par passivo a Kimbanda (não confundir
com a kiumbanda, que é a manifestação das trevas).
A Kimbanda, que é a força paralela passiva da Umbanda, força equilibradora da
Umbanda. A Kimbanda - São os Sete Planos Opostos da Lei, é o conjunto oposto da
Lei. Quando falamos em "oposto" à Lei, não queremos dizer aquilo que
está em desacordo à Lei, mas a maneira oposta de como a Lei é aplicada. Na
Kimbanda que os Exus se manifestam, a Kimbanda, portanto é o "reino"
dos Exus.
Os Exus são os "mensageiros" dos Orixás aqui na Terra. Através deles,
os Orixás podem se manifestar nas trevas. Então, para cada chefe de falange, subchefe,
etc., na Umbanda, temos uma entidade correspondente (ou par) na Kimbanda.
Os exus são considerados como "policiais” que agem pela Lei, no submundo
do "crime" organizado. As "equipes" de Exus sempre estão
nestas zonas infernais, mas, não vivem nela. Passam a maior parte do tempo
nela, mas, não fazem parte dela. Devido a esta característica, os Exus, são
confundidos com os kiumbas. Videntes os veem nestes lugares e erroneamente
dizem que eles são de lá.
MÉTODO E ATUAÇÃO DOS EXUS
A maneira dos Exus atuarem, às vezes nos choca, pois achamos que eles devem ser
caridosos, benevolentes, etc. Mas, como podemos tratar mentes transviadas no
mal? Os exus usam as ferramentas que sabem usar: a força, o medo, as magias, as
capturas, etc. Os métodos podem parecer, para nós, um pouco sem
"amor", mas eles sabem como agir quando necessitam que a Lei chegue
às trevas.
Eles ajudam aqueles que querem retornar à Luz, mas não auxiliam aqueles que
querem "cair" nas trevas. Quando a Lei deve ser executada, Eles a
executam da melhor maneira possível doa a quem doer.
Os exus, como executores da Lei e do Carma, esgotam os vícios humanos, de
maneira intensiva. Às vezes, um veneno é combatido com o próprio veneno, como
se fosse a picada de uma cobra venenosa. Assim, muitos vícios e desvios, são
combatidos com eles mesmos. Um exemplo, para ilustrar:
Uma pessoa quando está desequilibrada no campo da fé, precisa de um tratamento
de choque. Normalmente ela, após muitas quedas, recorre a uma religião e
torna-se fanática, ou seja, ela esgota o seu desequilíbrio, com outro
desequilíbrio: a falta de fé com o fanatismo. Parece um paradoxo? Sim, parece,
mas é extremamente necessário.
Outro exemplo é o vício as drogas, onde é preciso de algo maior para esgotar
este vicio: ou a prisão, a morte, uma doença, etc.
A Lei é sempre justa, às vezes somente um tratamento de choque remove um
espírito do mau caminho. E são os exus que aplicam o antídoto para os diversos
venenos.
Os Exus estão ligados de maneira intensiva com os assuntos terra-a-terra
(dinheiro, disputas, sexo, etc.). Quando a Lei permite, Eles atendem aos
diversos pedidos materiais dos encarnados.
Os Exus tem sob o domínio todas as energias livres, contidas em: sangue,
cadáveres, esperma, etc.
Por isso, seus campos de atuação são: cemitérios, matadouros, prostíbulos,
boates, necrotérios, etc. Eles lá estão, porque frenam (bloqueiam) as
investidas dos kiumbas e espíritos endurecidos que se comprazem nos vícios e na
matéria.
Os kiumbas, seres astutos, conseguem se manifestar como um Exu, num terreiro
muito preso às magias negras e assuntos que nada trazem elevação espiritual. Ao
se manifestarem, pedem inúmeras oferendas, trabalhos, despachos, em troca
destes favores fúteis. Normalmente eles pedem muito sangue, bebidas alcóolicas
e fumo. Chegam a enganar tanto (ou fascinar) que fazem as mulheres que procuram
estes "terreiros", pagarem as suas "contas" fazendo sexo
com o médium "deles". Ou seja, eles vampirizam o casal, quando o ato
sexual se efetua.
Mas, e os verdadeiros exus deixam? É uma pergunta que comumente fazemos, quando
estes disparates ocorrem.
Os exus permitem isso, para darem lição nestes falsos chefes de terreiros ou
médiuns. Como foi dito, os métodos dos exus, para fazer com que a Lei se
cumpra, são variados.
Muitas vezes, também, a obsessão é tão grande e profunda que os exus, não podem
separar de uma só vez obsedado e obsessor, pois isso causaria a ambos um prejuízo
enorme.
Outras vezes, os exus, deixam que isso aconteça, para criar
"armadilhas" contra os kiumbas, que uma vez instalados nos terreiros,
são facilmente capturados e assim, após um interrogatório, podem revelar
segredos de suas organizações, que logo em seguida, são desmanteladas. Alguns
terreiros, depois disso, são também desmantelados pelas ações dos exus,
causando doenças que afastam os médiuns, as pessoas, etc.
Existem algumas coisas com as quais um guia da direita (caboclo, preto-velho e
criança) não lida, mas quando se pede a um Exu, ele vai até essa sujeira, entra
e tira a pessoa do apuro.
Se tiver alguém para te assaltar ou te matar, os Exus te ajudam a se livrar de
tais problemas, desviando o bandido do seu caminho, da mesma forma a Pomba-Gira,
não rouba homem ou traz mulher para ninguém, são espíritos que conhecem o
coração e os sentimentos dos seres humanos e podem ajudar a resolver problemas
conjugais e sentimentais.
Para finalizar, se você vier pedir a um Exú de Lei (de verdade) para prejudicar
alguém, pode estar certo que você será o primeiro a levar a execução da
Justiça. Mas, se você não estiver em um centro sério, e a entidade travestida
ou disfarçada de Exú aceitar o seu pedido... Bom, quando esta vida terminar, e
você for para o outro lado... Você será apenas cobrado!
DEVEMOS OFERENDAR AOS EXUS?
Os exus, como já foi dito, atuam intensamente no submundo astral. Grandes
batalhas são travadas entre o bem e o mal. Muita energia é despendida nestas
investidas e os exus, por atuarem assim, acabam gastando enormemente as suas
reservas energéticas.
Depois de vários "dias" trabalhando, eles se recolhem em seus
"quartéis" e repõem parte destas energias e aproveitam e estudam,
discutem novas táticas, etc.
Quando fazemos alguma oferenda para os Exus, eles "capturam" as
energias dos elementos oferendados, ou a parte etérica e "recarregam as
suas baterias".
Mas, se o exu é um espírito, porque ele precisa de oferendas materiais ?
Como eles estão ligados ao terra-a-terra e ao submundo astral que é muito
denso, os exus precisam retirar dos elementos materiais a energia que gastaram
em seus trabalhos.
Quais elementos podemos oferendar ?
Devemos tomar muito cuidado com o que oferendamos, pois, os elementos mais
densos (sangue, carne, cadáveres, ossos), são a tratores de espíritos
endurecidos, que sentem necessidade de elementos materiais. Portanto, é melhor
manipular elementos sutis nas oferendas (frutas, incensos, ervas, etc.)
Posso então oferecer um animal sacrificado para um exu?
Pensemos bem, um animal inocente, tem que pagar, com a vida para que possamos
reabilitar a nossa ligação com um exu?
Creio que não devemos destruir uma vida por isso. Para harmonizar algo devemos
desarmonizar outro? Não há muita lógica nisso.
O sangue, por ter um alto teor energético, com certeza restauraria rapidamente
as "baterias" de um exu.
Mas, além deste aspecto pouco prático que é o sacrifício de um pobre animal,
devemos considerar mais duas coisas:
1. Os inimigos da Umbanda, sempre se apegam a este tipo de oferenda para dizer
que é uma religião demoníaca. Quando uma pessoa passa em frente a um despacho
numa encruzilhada, aquela cena causa-lhe desagradáveis sensações e os seus
pensamentos negativos vão se juntar à egrégora negativa já criada com um
despacho.
2. Oferendas com sangue ou carne, atraem muitos kiumbas, às vezes, impedindo
que o próprio exu se aproxime, portanto, estaremos alimentando os vícios destes
espíritos.
Resumindo, é melhor não utilizar e manipular este tipo de elemento em
oferendas, ebós, sacudimentos, etc., pois os resultados podem ser negativos e
prejudiciais. Além disso, a verdadeira oferenda tem a principal função de
reenergizar ou sublimar o próprio médium. Então, o melhor é oferendar elementos
não densos, tais como frutas, ervas, velas, incensos, etc.
Lembremos ainda que a UMBANDA não aceita o sacrifício de animais.
AS POMBO-GIRAS
O termo Pombo-Gira é corruptela do termo "Bombogira" que significa em
Nagô, Exu.
A origem do termo Pomba-Gira, também é encontrada na história.
No passado, ocorreu uma luta entre a ordem dórica e a ordem iônica. A primeira
guardava a tradição e seus puros conhecimentos. Já a iônica tinha-os totalmente
deturpados. O símbolo desta ordem era uma pomba-vermelha, a pomba de Yona. Como
estes contribuíram para a deturpação da tradição e foi uma ordem formada em sua
maioria por mulheres, daí a associação.
Se Exu já é mal interpretado, confundindo-o com o Diabo, quem dirá a
Pomba-Gira? Dizem que Pomba-Gira é uma mulher da rua, uma prostituta. Que
Pomba-Gira é mulher de Sete Exus! As distorções e preconceitos são
características dos seres humanos, quando eles não entendem corretamente algo,
querendo trazer ou materializar conceitos abstratos, distorcendo-os.
Pombo-Gira é um Exu Feminino, na verdade, dos Sete Exus Chefes de Legião,
apenas um Exu é feminino, ou seja, ocorreu uma inversão destes conceitos,
dizendo que a Pombo-gira é mulher de Sete Exus e, por isso, prostituta.
É claro que em alguns casos, podem ocorrer que uma delas, em alguma encarnação
tivesse sido uma prostituta, mas, isso não significa que as pombo-giras tenham
sido todas prostitutas e que assim agem.
A função das pombo-giras, está relacionada à sensualidade. Elas frenam os
desvios sexuais dos seres humanos, direcionam as energias sexuais para a
construção e evitam as destruições.
A sensualidade desenfreada é um dos "sete pecados capitais" que
destroem o homem: a volúpia. Este vicio é alimentado tanto pelos encarnados,
quanto pelos desencarnados, criando um ciclo ininterrupto, caso as pombo-giras
não atuassem neste campo emocional.
As pombo-giras são grandes magas e conhecedoras das fraquezas humanas. São,
como qualquer exu, executoras da Lei e do Carma.
Cabe a elas esgotar os vícios ligados ao sexo. Quando um espírito é
extremamente viciado ao sexo, elas, às vezes, dão a ele "overdoses"
de sexo, para esgotá-lo de uma vez por todas.
Elas, ao se manifestarem, carregam em si, grande energia sensual, não significa
que elas sejam desequilibradas, mas sim que elas recorrem a este expediente
para "descarregar" o ambiente deste tipo de energia negativa.
São espíritos alegres e gostam de conversar sobre a vida. São astutas, pois
conhecem a maioria das más intenções.
Devemos conhecer cada vez mais o trabalho dos guardiões, pois eles estão do
lado da Lei e não contra ela. Vamos encará-los de maneira racional e não como
bichos-papões. Eles estão sempre dispostos ao esclarecimento. Através de uma
conversa franca, honesta e respeitosa, podemos aprender muito com eles.
Agora, eu te pergunto: o que você sente ao ser incorporado pelo teu Exú? Pense
e depois me diga, se o que você sente não é uma poderosa força neutra que te
retesa o corpo e as mãos. Você não sente ódio, rancor, maldade, perversidade,
desejo de vingança, enfim, nada da caracterização de um ser monstruoso que
alguns pensam ser nossos irmãos Exus. Não se esqueça que Exú muitas vezes é
chamado de” Compadre”, ou seja, aquele em quem você confia tanto, a ponto de
dar seu filho para batizar.
Observe que, comportamentos negativos como a agressividade e sensualidade
exageradas demonstradas em determinadas incorporações podem ser derivadas do
próprio médium. Se forem, o médium deve buscar conhecer e resolver o próprio
problema.
EXÚS SÃO DEMÔNIOS? Pelo contrário... Os Exus, são os Senhores Agentes da Justiça
Kármica, são quem guardam a cada um de nós e ao terreiro como um todo (Quem
você acha quem são os vigilantes tão mencionados nos livros de Chico Xavier/
André Luiz?). Estão acima dos princípios do bem e do mal. Tem-se que entender
que "demônio" vem do grego "demo". Termo utilizado por
Sócrates para definir "espírito" e "alma". Por sua vez, em
função dos valores "do bem e do mal", pelo fato de vivermos no mundo
da forma, precisou-se estereotipar este "mal". Na realidade, "os
demônios" estão dentro de cada um.
Com relação aos espetáculos, que certas religiões mostram na televisão, com
incorporação de “Exus” que dizem querer destruir a vida dos encarnados; podem
até ocorrer manifestações mediúnicas, mas com certeza não são os Verdadeiros
Exus da Umbanda que conhecemos. E sim os obsessores, vampirizadores e Kiumbas
que usando o nome dos Exus, que os combatem, tentam marginalizá-los e
difamá-los junto ao povo, que em geral não tem acesso a uma informação completa
sobre a natureza dos nossos irmãos Exus.
Outro fato muitíssimo importante, que ocorre em centros não sérios, é a
manifestação de uma kiumba passando-se por uma Pombo-gira. Deve-se tomar muito
cuidado, pois certamente ela estará apenas vampirizando as emanações sensuais
do médium, podendo prejudicá-lo seriamente.
Vale lembrar que às vezes, um consulente pode ficar fascinado ou encantado com
uma Pombo-gira. O que fazer então?
"Orai e vigiai" é o lema de todo médium. Devemos estar atentos não
com os vícios alheios, mas com os nossos. Devemos direcionar as energias desequilibrastes
e transformá-las em energias salutares, em ações benéficas.
Resumindo, EXU NÃO É O DIABO!!!
Basicamente existem três correntes de pensamento, que tentam explicar o
nascedouro do vocábulo “Exu”.
1. A primeira corrente afirma que a palavra Exu seria uma corruptela ou
distorção dos nomes Esseiá/Essuiá, significando lado oposto ou outro lado da
margem, nomenclatura dada a espíritos desgarrados que foram arrebanhados para a
Lemúria, continente que teria existido no planeta Terra.
2. A Segunda corrente assevera que o nome Exu seria uma variante do termo
Yrshu, nome do filho mais moço do imperador Ugra, na Índia antiga. Yrshu,
aspirando ao poder, rebelou-se contra os ensinamentos e preceitos preconizados
pelos Magos Brancos do império. Foi totalmente dominado e banido com seus
seguidores do território indiano. Daí adveio a relação Yrshu / Exu, como
sinônimo de povo banido, expatriado. Saliente-se que entre os hebreus
encontramos o termo Exud, originário do sânscrito, significando também povo
banido.
3. A terceira corrente afirma que o nome Exu é de origem africana e quer dizer
Esfera.
Ainda hoje, apesar dos esforços direcionados a um maior estudo no meio
umbandista, os Exus são tidos, pelos que não conhecem suas origens e atribuições,
como a personificação individualizada do mal, o diabo incorporado. Tal imagem é
fruto de más interpretações dadas por pessoas que, não tendo a devida cautela
em avaliar fatos e objetos de culto, passaram a conferir aos Exus o título de
mensageiros das trevas.
Esta imagem pejorativa de Exu-Orixá foi erroneamente absorvida e difundida por
alguns umbandistas, sobretudo aqueles que tiveram passagem por cultos
africanistas, o que fez com que uma gama de espíritos de certa evolução que
vieram à Umbanda desempenhar funções mais terra-a-terra, fossem equiparados a
falangeiros do mal, sendo até hoje os Exus simbolizados por figuras grotescas,
com chifres, rabos, pés de bode, tridentes, sendo tal imagem do mal pertinente
a outros segmentos religiosos.
Em realidade os Exus constituem-se em uma notável falange de abnegados
espíritos combatentes de nossa Umbanda. São hierarquicamente organizados e
realizam tarefas atinentes à sua faixa vibratória. São os elementos de execução
e auxiliares dos Orixás, Guias e Protetores, tendo, entre outras tarefas, a de
serem as sentinelas das casas de Umbanda, de policiarem o baixo astral e
anularem trabalhos de baixa magia. Ao contrário do que pensam alguns, têm noção
exata de Bem e Mal. São justos, ajudando a cada um segundo ordens superiores e
merecimento daquele que pede auxílio.
São os Exus que freiam as ações malévolas dos obsessores que atormentam os
humanos no dia-a-dia. São os vigilantes ostensivos, a tropa de choque que está
alerta contra os kiumbas, prendendo-os e encaminhando-os à Colônias de
Regeneração ou Prisões Astrais.
Em algumas ocasiões baixam em templos de Umbanda, ou mesmo em templos de outras
religiões, espíritos que tumultuam o ambiente, promovendo espetáculos
circenses, galhofas, e se comportando de maneira deselegante para com os
presentes, xingando-os e proferindo palavras de baixo calão. Comportamento como
estes não devem ser imputados aos Exus, e sim aos Kiumbas, espíritos moralmente
atrofiados e que ainda não compreenderam a imutável Lei de Evolução, apegados
que estão aos vícios, desejos e sentimentos humanos.
Os Kiumbas, para penetrarem nos terreiros, fingem ser Caboclos, Pretos-Velhos,
Exus, Crianças etc., cabendo ao Guia-chefe da Casa estar sempre vigilante ante
a determinadas condutas, como palavrões, exibições bizarras, ameaças etc.
Um outro aspecto importante que merece ser suscitado diz respeito a alguns
"médiuns" infiltrados no movimento umbandista. Despidos das
qualidades nobres que o ser humano necessita buscar para seu progresso
espiritual, contaminam e desarmonizam os locais de trabalhos espirituais.
Tentam impressionar os menos esclarecidos com gracejos, malabarismos, convites
imorais, encharcados de aguardente.
"Desincorporados", atribuem aos Exus e Pombo-giras tais
comportamentos.
Fatos como estes são afetos a pessoas sem escrúpulos, moral ou ética, pessoas
perniciosas que aproveitam a imagem distorcida de Exu para exteriorizarem o seu
verdadeiro "eu". Estes "médiuns", não raras vezes, acabando
caindo no ridículo, ficam desacreditados, dando margem, segundo a Lei de
Afinidades, a aproximação e posterior tormento por parte dos obsessores.
Os Exus são espíritos que, como nós, buscam a evolução, a elevação,
empenhando-se o mais que podem para aplicarem as diretrizes traçadas pelo
Mestre Jesus. É bem verdade que em seu estágio inicial os Exus ainda têm um
comportamento às vezes instável, cabendo aos verdadeiros umbandistas o dever de
não deixar que se desvirtuem de seu avanço espiritual.
Alguns maus-Umbandistas, que se não agem por má-fé, o fazem por falta de
vontade de estudar a respeito, difundem esta visão negativa de Exu, fazendo com
que os iniciantes no culto fiquem temerosos quando um Exu se manifesta.
Estes elementos prestam um desserviço à religião, promovendo o terror, a
obscuridade, o conflito, a confusão. Diminuem os Exus à condição de espíritos
interesseiros, astutos e cruéis; que são maus para uns e bons para outros,
dependendo dos agrados ou presentes que recebam; de moral duvidosa, fumando os
melhores charutos e bebendo os melhores uísques.
A que ponto pode chegar a ignorância humana em visualizar estes seres
espirituais como meros negociantes ilícitos, fazendo dos terreiros balcão de
negócios, em total dissonância com o bom senso e a Lei Suprema.
“Lamentável!!! Profundamente lamentável!!!” Esta é uma das expressões que mais
passam pela mente dos verdadeiros e estudiosos umbandistas ao percorrerem
alguns terreiros e verificar quão distorcido é o conceito sobre a figura dos
Exus. Espíritos mal compreendidos, mas que, apesar disto, continuam a
contribuir eficazmente para os trabalhos de Umbanda, como humildes
trabalhadores espirituais, que não medem esforços para minorar o sofrimento
humano.